Por Joe Nickell
Publicado na Skeptical Inquirer
Depois de anos, finalmente encontrei-me com a Estátua Peregrina de Fátima (figuras 1 e 2), uma estátua cuja sua “mensagem” tem se espalhado pelo mundo – da paz mundial. Às vezes, a estátua “chora”, com alguns acreditando que as lágrimas supostamente milagrosas “estão relacionadas com a trágica legalização do aborto” (“Milagres”, 2012).
Eventos de Fátima
Fátima, em Portugal, foi o local onde, em 1917, a Virgem Maria supostamente apareceu para crianças de 10 anos de idade, Lucia Santos e seus dois primos. Lucia, a única pessoa a falar da aparição, expôs claramente os traços de uma personalidade propensa a fantasia. Sua mãe viria a declarar-lhe que “nada além de uma farsa que está conduzindo a metade do mundo.”
No final de um período de aparições de seis meses, ocorreu o famoso “Milagre do Sol”, proclamando como tal pela Igreja Católica. De milhares de pessoas, algumas alegavam que o Sol girava como um cata-vento, enquanto outros alegavam que ele “dançava” ou parecia cair em direção aos espectadores.
No entanto, as pessoas em outras partes do mundo – vendo o mesmíssimo Sol – não viram os giros, é provável que os efeitos ópticos foram causados por distorções da retina temporária (de olhar para a luz intensa) ou por observá-lo fixamente. Os fenômenos meteorológicos e as chamadas “histerias coletivas” também podem ter ocorrido. O “Milagre do Sol” já foi relato em outros lugares do mundo (Nickell 1993, 176-185; 2009).
Em 1947, a estátua foi criada com base na descrição de sua suposta aparição relatada por Lucia. Um ano depois do atentado contra sua vida, na Praça de São Pedro, em 1981, o Papa João Paulo II ordenou que a bala retirada do veículo que o transportava fosse colocada na coroa da estátua – em gratidão por sua vida ter sido salva. A tentativa de assassinato foi supostamente prevista por um dos três “segredos” que haviam sido reveladas a Lucia no dia da aparição. A mensagem falava de um Bispo vestido de branco sendo morto por soldados em uma rajada de balas e flechas que também matariam outros bispos e sacerdotes. Na verdade, a visionária “previsão” só poderia ser associada com o Papa ignorando muitos de seus erros a esse respeito, por exemplo, na tentativa de assassinato, ninguém foi morto, não havia flechas, e assim por diante. (Nickell, 2009).
Estátua chorando
A estátua tem sido frequentemente relatada a chorar, mais notavelmente em 1972, em Nova Orleans. Como um porta-voz da arquidiocese afirmou na época: “Há todos os tipos de causas possíveis. Está um clima muito úmido aqui.” A sugestão de condensação é enfatizada pelo fato de que a estátua de madeira tem olhos de vidro. A fraude é outra possibilidade, como evidenciada pelos inúmeros casos de falsas estátuas “choronas”, muitos dos quais já foram investigadas (veja, por exemplo, o meu estudo de um caso em Nickell, 2011). A imaginação é um outro fator: de acordo com o site da estátua, “Frequentemente, um indivíduo vê as lágrimas na estátua enquanto outros ao mesmo tempo não” (“Milagres”, 2012).
Quando vi a estátua em sua visita a St. Leo, na grande Igreja Católica em Amherst, Nova York (16 de Setembro de 2012), parecia bastante comum. No entanto, afirmar que às vezes a estátua milagrosamente chora é irônico à luz do ensinamento anti-idolatria na bíblia católica. Ela contem um capítulo extra, o décimo quarto capítulo de Daniel, que ridiculariza a adoração aos ídolos. Nela, o rei pergunta à Daniel: “Você não acha que Bel é um deus vivo? Você não vê que ele come e bebe todos os dias?”, ao que Daniel responde que o ídolo é feito de argila coberta de bronze e, assim, não poderia comer e nem beber. Enfurecido, o rei ordena que os setenta sacerdotes de Bel mostrem quem consome as oferendas feitas ao ídolo. Os sacerdotes desafiam o rei a depositar suas oferendas, como sempre fizera (que eram as “doze medidas grandes de farinha de boa qualidade, quarenta ovelhas e seis vasilhas de vinho”), e então a selar a entrada para o templo com seu anel: se Bel não consumisse as oferendas, os sacerdotes poderiam ser sentenciados à morte. Caso contrário, Daniel o seria. Daniel então prova, através de um estratagema – ele espalhou cinzas por todo o perímetro do templo, na presença do rei e após os sacerdotes terem partido – que as oferendas sagradas de Bel eram, na realidade, consumidas à noite pelos sacerdotes e por suas esposas e filhos, que entravam por uma passagem secreta após as portas do templo terem sido seladas. Na manhã seguinte, Daniel chama a atenção para as pegadas no chão do templo. Os sacerdotes de Bel foram então presos e, confessando seus atos, mostraram a passagem secreta que se utilizavam para entrar no templo. Eles, suas esposas e filhos, foram executados e Daniel obteve a permissão para destruir o ídolo de Bel e seu templo (Daniel 14: 1-22, Revised Standard Version, Edição Católica). É lamentável que esta lição contra a idolatria não seja recordada com mais frequência.
Referências
- “Miracles”. 2012. Online; accessed September 6, 2012.
- Nickell, Joe. Looking for a Miracle. Amherst, NY: Prometheus Books. 1993.
- The Real Secrets of Fatima. Skeptical Inquirer 33:6 (November/December), 14–17. 2009.
- The Case of the Miracle Oil. Skeptical Inquirer 35:3 (May/June), 17–19. 2011.