Por David Nield
Publicado na ScienceAlert
Uma nova análise de vasos de cerâmica antigos de Jerusalém dos séculos 11 e 12 apoiou as proposições anteriores de que alguns desses vasos podem ter sido usados como granadas de mão antigas durante o tempo das Cruzadas.
Artefatos arqueológicos esfero-cônicos – arredondados, com uma base em forma de cone – são encontrados em museus ao redor do mundo e estão ligados a tudo, desde o transporte de líquidos até o uso como cachimbos.
Sua versatilidade e uso diversificado foram bem documentados, e a nova análise constitui mais uma evidência de que o transporte de explosivos era uma de suas funções.
Nesta última análise de quatro fragmentos de vasos encontrados no local do Jardim Armênio na cidade murada de Jerusalém entre 1961 e 1967, e mantidos no Museu Real de Ontário, os especialistas puderam examinar o resíduo dentro deles – descobrindo que um vaso continha o que parece ser material explosivo.
“Esta pesquisa mostrou o uso diversificado desses vasos de cerâmica únicos que incluem dispositivos explosivos antigos”, disse o arqueólogo molecular Carney Matheson, da Universidade Griffith, na Austrália. “Essas vasos foram relatados durante o tempo das Cruzadas como granadas lançadas contra as fortalezas dos cruzados, produzindo ruídos altos e flashes de luz brilhantes”.
Através de uma variedade de testes químicos, os pesquisadores descobriram que os outros três recipientes provavelmente continham óleos, material perfumado e medicamentos. Isso corresponde ao que seria esperado de vasos como este.
O quarto vaso – um pote de grês com camadas muito grossas e sem decoração – continha resíduos que apontavam para a possibilidade de armazenamento de produtos químicos ou explosivos químicos. O enxofre foi um dos ingredientes detectados, juntamente com o mercúrio e o magnésio, todos em níveis mais elevados do que os outros vasos e o solo circundante.
Pesquisas anteriores sugeriram que potes como este quarto recipiente podiam conter pólvora (também chamada de pólvora negra), inventada na China no século IX. No entanto, a equipe por trás do novo estudo acha que a mistura química aponta para um explosivo diferente.
“Esta pesquisa mostrou que não é pólvora negra e provavelmente um material explosivo inventado localmente”, disse Matheson.
Os pesquisadores não descartam outros usos potenciais para o quarto pote: talvez uma fonte de combustível para uma lâmpada, ou um recipiente para óleos, já que também havia a presença de ácidos graxos (que foram usados nas primeiras armas térmicas).
O que eles dizem é que a hipótese da granada “vale a pena considerar mais”, principalmente devido à forma, tamanho e espessura do vaso.
Relatos históricos de batalhas, incluindo o cerco de Jerusalém em 1187 d.C., mencionam o uso de armas semelhantes a granadas de mão e, de fato, relíquias semelhantes às descritas neste estudo também foram encontradas em outros lugares.
Esta é outra evidência para pesquisadores que procuram entender como a guerra foi travada há milhares de anos.
O que permanece incerto é o que exatamente estava dentro dessas primeiras granadas de mão. Uma mistura conhecida como fogo grego foi sugerida, mas não há consenso sobre qual é realmente a receita para isso – e seus fabricantes nunca documentaram o processo de fabricação.
“Mais pesquisas sobre esses vasos e seu conteúdo explosivo nos permitirão entender a antiga tecnologia explosiva do período medieval e a história das armas explosivas no Mediterrâneo Oriental”, disse Matheson.
A pesquisa foi publicada no PLOS One.