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Observando a realidade de átomos e moléculas

Por Marcelo Gleiser
Publicado na National Public Radio

Os antigos filósofos gregos e indianos que primeiro deduziram que a matéria era feita de minúsculos pequenos pedaços de material não acreditariam que agora, mais de 25 séculos depois, podemos realmente vê-los.

Como previsto, os átomos modernos são completamente diferentes de seus homólogos antigos, pois não são indivisíveis, mas, ao invés disso, feitos dos elétrons que orbitam um núcleo positivamente carregado. Entretanto, a visualização dessas minúsculas estruturas permaneceu um desafio desde que a ideia surgiu nos tempos modernos, durante a virada do século XX.

Na verdade, muitos pesquisadores notáveis da época duvidaram que os átomos realmente existissem – isto é, que eles faziam parte da realidade, já que não podíamos vê-los. Como podemos saber se algo existe se não podemos ter uma evidência concreta disso? Boa pergunta, mas que certamente depende do estado da tecnologia da época. Presumindo, é claro, que a entidade pode ser estudada experimentalmente pelo menos indiretamente sem violar qualquer lei da natureza.

Em 2013, uma equipe de físicos holandeses liderada por Aneta Stodolna foi capaz de visualizar a função da onda elusiva do elétron em um átomo de hidrogênio. O hidrogênio, sendo o elemento químico mais simples, tem apenas um único elétron orbitando em um único próton no núcleo. A teoria da mecânica quântica prevê que o elétron deve ocupar “orbitais”, uma espécie de conchas esféricas ao redor do próton, onde pode ser encontrado com uma certa probabilidade. A função da onda é o objeto matemático que usamos para calcular essa probabilidade de encontrar o elétron aqui ou ali quando medimos sua posição.

Como pode ser visto, a teoria prevê que os orbitais têm uma bela e complexa estrutura parecida com uma cebola, com espaços entre as conchas, lugares onde o elétron não pode ser encontrado. As imagens de Stodolna, usando uma técnica chamada microscopia de fotoionização, foram capazes de construir um mapa visual de tais orbitais que combinam com a teoria com bastante precisão. Ninguém duvidava que a física quântica estava certa, mas é preciso ver para crer, como diz o ditado.

Igualmente surpreendente, um grupo de pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Berkeley, visualizou uma reação química átomo-a-átomo, mostrando não apenas como os átomos se reorganizaram após a reação, mas também as ligações químicas entre eles, as pontes que os unem, como um pequeno conjunto de construção da Erector.

A visualização dessas reações permite que os pesquisadores tenham um controle muito mais prático da dinâmica das reações químicas, algo muito importante em aplicações, onde novas moléculas e materiais estão sendo projetados.

Mas mais do que isso, as técnicas justificam o poder da imaginação humana. Os átomos e as moléculas fazem parte da caixa de ferramentas da física e da química, e suas reações e as estruturas foram inferidas teoricamente e por meio de experimentos engenhosos e técnicas espectroscópicas. (Estudando os tipos de luz visual e outros tipos de radiação eletromagnética que os átomos emitem e absorvem à medida que são arrefecidos ou aquecidos, por exemplo, ou durante reações e colisões.)

Durante as primeiras décadas do século XX, desenvolveu-se um novo tipo de física, a física quântica, com apenas evidências experimentais teóricas e indiretas da existência dessas estruturas. Nós não duvidamos que elas estivessem lá, já que a teoria explicava tão bem as experiências, mas não tínhamos certeza dos detalhes. Agora, somos nós. Os alunos podem recorrer a livros didáticos e olhar para esses orbitais atômicos e ligações moleculares com a confiança de alguém que sabe que não são apenas ideias ou conceitos, mas entidades reais que nos fazem e todos os outros tipos de matéria no universo.

Marcelo Gleiser

Marcelo Gleiser

Appleton Professor of Natural Philosophy at Dartmouth College, USA. Professor of Physics and Astronomy at Dartmouth College, USA. Writer, blogger, public lecturer.