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OMEGA-3 pode previnir doenças psicóticas

“As longas cadeias de Ácidos lipídicos poliinsaturados OMEGA-3 (PUFAs) são essenciais para o desenvolvimento e funcionamento neural. Componentes chave do desenvolvimento do tecido cerebral, OMEGA-3 PUFAs têm funções críticas no desenvolvimento e bom funcionamento do cérebro, e a falta destes lipídios fora implicada em um número de problemas mentais durante a vida de um indivíduo, incluindo esquizofrenia.”

Assim começa o abstrato do artigo de Amminger e colegas, publicado na revista Nature Communications em 11 de agosto deste ano.

A esquizofrenia, doença marcada pela presença de alucinações, paranoias, mania de perseguição, além de diversos problemas cognitivos, pode se apresentar cedo na vida do paciente, na infância, ou mais tarde. A verdade é que durante toda a vida, um indivíduo que possui o risco de desenvolver a doença, pode vir a desenvolvê-la. Além da saúde mental, pacientes que sofrem de esquizofrenia morrem em media dez anos mais cedo do que a população sem a doença. As mortes ocorrem geralmente por complicações metabólicas no coração. Os tratamentos disponíveis atualmente, são de natureza paliativa, e não curativa.

O fator genético tem uma grande importância no desenvolvimento da doença, sabe-se que pessoas com parentes que sofrem da doença, tem um risco maior de vir a desenvolvê-la também.

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A figura mostra a relação de genes divididos com parentes, e a porcentagem que desenvolve a doença. Por exemplo, entre gêmeos idênticos, que dividem o mesmo genoma um gêmeo sem esquizofrenia, têm 48% de chances de desenvolver, se o seu irmão a tiver. Explicando que a penetrância dos genes que pre-dispõe a doença, não é 100%, e que há fatores ambientais muito fortes envolvidos.

É aí que entra as notáveis observações feitas pelos cientistas.

Eles incluiram 81 pessoas de 23 a 25 anos de idade, apresentando sintomas como: sintomas psicóticos atenuados, psicose transiente e um risco genético, além de uma diminuição do funcionamento. Destes, 41 receberam OMEGA-3 PUFAs, enquando os outros 40 receberam placebo. O estudo foi “double blind” significando que nem os pacientes, ou os cientistas sabiam quem era do grupo placebo, ou quem era do grupo OMEGA-3 PUFAs. Todos os pacientes tinham a intenção de se tartar, o que beneficia o efeito placebo.

Todos os pacientes estavam em estado pré-psicótico, o critério para término de um paciente no estudo se dava no momento em que o estado passasse de pré-psicótico a psicótico, tal momento em que o indivíduo deveria inciar tratamento com drogas anti psicóticas.

Após controle ”follow up” a longo prazo, 16 dos 40 (40%) pacientes que receberam placebo progrediram para o estado psicótico, enquanto 4 dos 41 (9.8%) do grupo que recebeu OMEGA3 PUFAs evoluiriam para estado psicótico.

Este foi o primeiro estudo que mostra que um simples suplemento de OMEGA-3 pode reduzir consideravelmente as chances de desenvolvimento de psicoses e progressão para esquizofrenia. Os valores estatísticos de t testes realizados são altamente significantes.

“Os circuitos neurais no cérebro são formados em períodos críticos de desenvolvimento. É muito plausível que intervenções durante um período de circunscrição de maior suceptibilidade tenha efeitos a longo prazo. O OMEGA-3 fornece uma gama de atividades neuroquímicas, via modulação de recaptação de neurotrasnmissores (noradrenalina, dopamina e serotonina), degradação, síntese, e ligação de receptors, assim como efeitos antiinflamatórios e anti apoptóticos, resultando no melhoramento da fluidez da membrana e neurogenesis.”

O estudo não chegou a conclusões mecanísticas de como o OMEGA-3 age, porém seus achados apontam para o fato de que OMEGA-3 impede a continuação de processos associados com a manifestação de psicoses.

O artigo pode ser lido na íntegra no site da nature (em inglês): http://www.nature.com/ncomms/2015/150811/ncomms8934/full/ncomms8934.html

Fontes:

http://www.nature.com/ncomms/2015/150811/ncomms8934/full/ncomms8934.html

http://www.schizophrenia.com/research/hereditygen.htm

Caroline Miranda

Caroline Miranda

Sou formada em biologia molecular pela Universidade de Skövde, Suécia, mestrada em biologia molecular pela mesma universidade, e mestrada em genética, pela Universidade de Gotemburgo. Atualmente sou doutoranda em medicina pela universidade de Gotemburgo. Sou pesquisadora de câncer e trabalho atualmente com pesquisa epigenética em RNAs não codificantes. Sou fascinada por astronomia e passo meu tempo livre olhando as estrelas do meu telescópio amador. Sou cética, acredito em fatos e afirmações baseadas em evidências. "Extraordinary claims require extraordinary evidence" Carl Sagan