Traduzido por Julio Batista
Original de David Nield para o ScienceAlert
A paisagem sonora marciana pode ser tão assustadoramente estranha quanto se espera ouvir em outro mundo. O estrondo de impactos ocasionais de meteoritos, o gemido dos tremores no solo, o sussurro de um vento sem fim.
Agora temos um assento na primeira fila na aproximação e retirada de um Saci-Pererê marciano vasculhando a superfície, ajudando a conduzir o ciclo de poeira pela atmosfera e ao redor do pequeno mundo manchado de ferrugem.
O Perseverance foi o primeiro rover a alcançar a superfície de Marte com um microfone funcional conectado, e o instrumento tem sido bem utilizado desde que o rover pousou em fevereiro de 2021. O microfone faz parte de um conjunto de ferramentas de gravação no rover conhecido como SuperCam.
É graças a esta peça inovadora de tecnologia que podemos ouvir pela primeira vez como soa um redemoinho em outro planeta. É misterioso e breve e bastante fantástico ao mesmo tempo.
“Podemos aprender muito mais usando o som do que com algumas das outras ferramentas”, disse o cientista planetário Roger Wiens, da Universidade Purdue, em Indiana, EUA.
“Elas fazem leituras em intervalos regulares.”
“O microfone nos permite amostrar, não exatamente na velocidade do som, mas quase 100.000 vezes por segundo. Isso nos ajuda a ter uma noção mais forte de como é Marte.”
O microfone do Perseverance, na verdade, grava apenas três minutos por dia: esta é a primeira vez que um redemoinho de poeira passou, embora outros instrumentos tenham registrado evidências de quase 100 outros redemoinhos onde o rover está baseado na Cratera Jezero.
O redemoinho passou perto do rover em 27 de setembro de 2021 – o 215º dia marciano (ou sol) de sua missão. Os cientistas estimam que o tamanho do redemoinho era de cerca de 25 metros de largura, enquanto teria pelo menos 118 metros de altura.
Ao combinar fotografias com leituras de vento, pressão, temperatura e poeira, o Perseverance também foi capaz de rastrear a velocidade do minitornado marciano ao passar, que chegou a 19 quilômetros por hora.
“Este encontro casual com o redemoinho demonstra o potencial dos dados acústicos para solucionar a estrutura do vento rápido da atmosfera marciana”, escreveram Wiens e seus colegas em seu paper.
Os ventos ao redor teriam sido mais rápidos e, na gravação, você pode ouvir o silêncio que reflete o olho calmo desse minitornado em particular. Parte do que torna as novas informações valiosas é como elas se comparam a eventos como este na Terra.
“O vento é rápido – cerca de 40 quilômetros por hora, mas é mais ou menos o que você veria em um redemoinho de poeira na Terra”, disse Wiens. “A diferença é que a pressão do ar em Marte é tão menor que os ventos, embora tão rápidos, empurram com cerca de 1% da pressão que a mesma velocidade do vento teria na Terra.”
“Não é um vento forte, mas claro o suficiente para lançar partículas de areia no ar para fazer um redemoinho de poeira.”
Todos os dados que estamos coletando atualmente em Marte são úteis por vários motivos. Por um lado, nos dá uma ideia melhor de como o planeta evoluiu, o que, por sua vez, dá aos cientistas pistas de como outros planetas do Universo também podem estar evoluindo.
Esses outros planetas incluem a Terra e, como Marte é nosso vizinho planetário mais próximo, nossas histórias estão intimamente entrelaçadas. Comparar a Terra e Marte nos dá uma ideia melhor do passado e do futuro de ambos os planetas.
Há também a ambição da humanidade de um dia pisar em Marte. Gravações como esta sugerem o tipo de condições que podemos esperar e como podemos nos proteger ou utilizar tais condições – a maneira como o vento pode limpar naturalmente os painéis solares, por exemplo.
“Assim como na Terra, há clima diferente em diferentes áreas de Marte”, disse Wiens. “Usar todos os nossos instrumentos e ferramentas, especialmente o microfone, nos ajuda a ter uma noção concreta de como seria estar em Marte.”
A pesquisa foi publicada na Nature Communications.