Por Michelle Ma
Publicado na University of Washington
Na próxima vez que você comer sashimi, nigiri ou outras formas de peixe cru, considere fazer uma verificação rápida da presença de vermes.
Um estudo conduzido pela Universidade de Washington (EUA) descobriu aumentos dramáticos na abundância de um verme que pode ser transmitido a humanos que comem frutos do mar crus ou mal cozidos. Seu aumento de 283 vezes em abundância desde a década de 1970 pode ter implicações para a saúde de humanos e mamíferos marinhos, que podem inadvertidamente comer o verme.
Milhares de estudos analisaram a abundância desse verme parasita, conhecido como Anisakis, em lugares e períodos específicos. Mas este é o primeiro estudo a combinar os resultados desses estudos para investigar como a abundância global desses vermes mudou ao longo do tempo. As descobertas foram publicadas em 19 de março na revista Global Change Biology.
“Este estudo aproveita o poder de muitos estudos juntos para mostrar um quadro global de mudanças ao longo de um período de quase quatro décadas”, disse a autora correspondente Chelsea Wood, professora assistente da Escola de Ciências Aquáticas e Pesqueiras da UW. “É interessante porque mostra como os riscos para humanos e mamíferos marinhos estão mudando com o tempo. Isso é importante do ponto de vista da saúde pública e para entender o que está acontecendo com as populações de mamíferos marinhos que não estão prosperando”.
Os vermes Anisakis podem ser encontrados em uma variedade de espécies de peixes marinhos e lulas. Quando as pessoas comem vermes Anisakis vivos, o parasita pode invadir a parede intestinal e causar sintomas semelhantes aos de uma intoxicação alimentar, como náuseas, vômitos e diarreia. Na maioria dos casos, o verme morre após alguns dias e os sintomas desaparecem. Esta doença, chamada anisaquíase ou anisakiose, raramente é diagnosticada porque a maioria das pessoas presume que sofreu apenas um caso grave de intoxicação alimentar, explicou Wood.
Depois que os vermes eclodem no oceano, eles primeiro infectam pequenos crustáceos, como camarões, krills ou copépodes. Quando os peixes pequenos comem os crustáceos infectados, os vermes se transferem para seus corpos, e isso continua à medida que peixes maiores comem peixes infectados menores.
Humanos e mamíferos marinhos são infectados quando comem um peixe que contém vermes. Os vermes não podem se reproduzir ou viver por mais do que alguns dias no intestino de um humano, mas podem persistir e se reproduzir em mamíferos marinhos.
Os processadores de frutos do mar e os chefs de cozinha que preparam sushi têm muita prática em detectar vermes em peixes e retirá-los antes que cheguem aos clientes em supermercados, mercados de frutos do mar ou a mesa em um sushi bar, explicou Wood. Os vermes podem ter até 2 centímetros de comprimento.
“Em todas as fases do processamento de frutos do mar e preparação de sushi, as pessoas são boas em encontrar vermes e removê-los dos peixes”, disse Wood.
Alguns vermes podem passar por essas etapas de triagem. Ainda assim, Wood – que estuda uma variedade de parasitas marinhos – disse que gosta de comer sushi regularmente. Para os consumidores de sushi que continuam preocupados com esses vermes, ela recomenda cortar cada pedaço ao meio e procurar por vermes antes de comê-los.
Para a análise, os autores do estudo pesquisaram a literatura publicada online de todas as menções de vermes Anisakis, bem como outro verme parasita chamado Pseudoterranova. Eles reduziram os estudos com base em critérios definidos, mantendo apenas os estudos que apresentavam estimativas da abundância de cada verme nos peixes em um determinado momento. Enquanto os vermes Anisakis aumentaram 283 vezes durante o período de estudo de 1978 a 2015, os vermes Pseudoterranova não mudaram em abundância.
Embora os riscos de saúde desses vermes marinhos sejam bastante baixos para os humanos, os cientistas acreditam que eles podem ter um grande impacto sobre os mamíferos marinhos, como golfinhos, baleias e focas. Os vermes se reproduzem no intestino desses animais e são liberados no oceano por meio das fezes dos mamíferos marinhos. Embora os cientistas ainda não conheçam os impactos fisiológicos desses parasitas nos mamíferos marinhos, os parasitas podem viver nos corpos dos mamíferos por anos, o que pode ter efeitos prejudiciais, disse Wood.
“Uma das implicações importantes deste estudo é que agora sabemos que existe um enorme risco crescente para a saúde dos mamíferos marinhos”, disse Wood. “Os parasitas podem ser um das razões de algumas populações de mamíferos marinhos não estarem se recuperando. Espero que este estudo incentive as pessoas a olhar para os parasitas intestinais como um limite potencial para o crescimento da população de mamíferos marinhos ameaçados e em perigo”.
Os autores não têm certeza do que causou o grande aumento de vermes Anisakis nas últimas décadas, mas as mudanças climáticas, mais nutrientes de fertilizantes e escoamento e um aumento nas populações de mamíferos marinhos no mesmo período podem ser razões potenciais, eles disseram.
Os mamíferos marinhos têm sido protegidos pela Lei de Proteção aos Mamíferos Marinhos dos EUA desde 1972, que permitiu o crescimento de muitas populações de focas, leões marinhos, baleias e golfinhos. Como os vermes se reproduzem dentro dos mamíferos marinhos – e sua ascensão ocorreu no mesmo período que o aumento dos mamíferos – esta é a hipótese mais plausível, disse Wood.
“É possível que a recuperação de algumas populações de mamíferos marinhos tenha permitido a recuperação de seus parasitas Anisakis”, disse Wood. “Portanto, o aumento de vermes parasitas pode ser uma coisa boa, um sinal de que o ecossistema está indo bem. Mas, ironicamente, se uma população de mamíferos marinhos aumentar em resposta à proteção de nossas leis e seus parasitas Anisakis verem lucro nesse aumento, isso poderia colocar outras populações de mamíferos marinhos mais vulneráveis em risco de infecção crescente, e isso poderia tornar ainda mais difícil para essas populações de animais ameaçados de extinção se recuperar”.
Outros coautores são Evan Fiorenza, que concluiu o trabalho como estudante de graduação da UW; Catrin Wendt, estudante de graduação na Escola de Ciências Aquáticas e Pesqueiras da UW; Katie Dobkowski, do Bates College; Teri King do Washington Sea Grant; Marguerite Pappaioanou e Peter Rabinowitz do Departamento de Ciências Ambientais e de Saúde Ocupacional da Faculdade de Saúde Pública da UW; e Jameal Samhouri, do NW Fisheries Science Center da NOAA.
Este estudo foi financiado pelo Washington Sea Grant, a Fundação Nacional da Ciência, a Fundação Alfred P. Sloan e a Universidade de Washington.
Para obter mais informações, entre em contato com Wood em chelwood@uw.edu.