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Pássaro capturado no âmbar há 100 milhões de anos é o melhor achado do tipo até agora

Por Michael Le Page
Publicado na New Scientist

Insetos não são as únicas criaturas que ficaram presas no âmbar durante a época dos dinossauros. Partes de antigas aves e outros dinossauros também já foram achados  fossilizados desta maneira – e o pássaro mais completo até o momento acabou de ser encontrado.

Um pedaço de âmbar de mais de 100 milhões de anos encontrado em Myanmar contém cabeça, pescoço, asa, cauda e os pés de um recém-nascido. Ele tinha apenas alguns dias de vida quando caiu em uma piscina de seiva que escorreu de uma conífera.

“É a visão mais completa e detalhada que já tivemos”, diz Ryan McKellar, do Royal Saskatchewan Museum, em Regina, no Canadá, membro da equipe que descreveu o achado. “Ver algo desta completude é incrível. É simplesmente deslumbrante”.

Dá a impressão que a pele e a carne do pássaro foram preservadas no âmbar, mas é literalmente  apenas uma impressão, muito detalhada do animal, diz McKellar. Estudos de achados semelhantes mostram que a carne se desintegrou em carbono – e não há DNA utilizável. Os fãs de Jurassic Park ficarão desapontados com esta constatação.

O âmbar preserva algumas das cores da pena – mas que, neste caso, infelizmente não são tão emocionantes, pois “Eles eram pequenos animais pardos” admite McKellar.

O jovem pássaro pertencia a um grupo conhecido como “pássaros opostos” – Enantiornithes, que viviam ao lado dos antepassados ​​dos pássaros modernos e parecem ter sido mais diversificados e bem-sucedidos – até que padeceram com os dinossauros há 66 milhões de anos.

Detalhe da asa.

Achados fósseis anteriores e algumas asas preservadas em âmbar sugerem que as aves opostas já eclodiam com penas de voo prontas, e, portanto, aptas a cuidarem de si mesmas.

O novo achado soma-se a esta evidência, já que o recém-nascido tinha um conjunto completo de penas de voo e penas da cauda crescendo – mas, estranhamente, haviam falhas nas penas do corpo ao invés de ser coberto por baixo como as crias de hoje.

Provavelmente ficavam incubados no chão e depois subiam nas árvores, diz McKellar, tornando-os particularmente propensos a ficarem presos na seiva.

Na aparência, as aves opostas se pareciam com pássaros modernos, mas eles tinham uma articulação esferoide em seus ombros, oposta à dos pássaros modernos – daí o nome. Eles também tinham garras em suas asas, mandíbulas e dentes em vez de bicos (na época em que viviam esses animais, os ancestrais dos pássaros modernos ainda não haviam desenvolvido bicos).

O âmbar contendo o pássaro foi coletado por um museu na China há vários anos. Quando percebeu o que tinha, o museu contatou Lida Xing da Universidade de Geociências da China em Pequim, que liderou a equipe que descreveu o achado.

O porquê dos pássaros opostos terem sido extintos, enquanto os antepassados ​​das aves modernas sobreviveram ainda não está claro, mas a falta de cuidados parentais pode ter desempenhado o seu papel. A maioria das aves modernas exige cuidados parentais (o peru-do-mato australiano – que não tem relação com os perus americanos – é uma das poucas exceções).

O estudo está disponível na Gondwana Research.

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