Por Ian Sample
Publicado no The Guardian
Pesquisadores acreditam ter identificado o causador de um aumento exorbitante no número de pessoas que acreditam que a Terra é plana: o YouTube, plataforma de compartilhamento de vídeos do Google.
As suspeitas foram levantadas quando os pesquisadores compareceram à conferência anual do movimento em 2017 em Raleigh, Carolina do Norte, e em 2018, em Denver, Colorado. A conferência é considerada o maior encontro de Terraplanistas do globo.
Entrevistas com trinta pessoas que compareceram revela um padrão nas histórias que estas contam sobre como se convenceram de que a Terra não era uma rocha esférica gigante vagando no espaço, mas sim um disco chato que desempenha a mesma função.
De 30, 29 disseram que até aproximadamente dois anos atrás, nunca considerariam a Terra plana, mas que mudaram de ideia após assistir vídeos conspiratórios no YouTube. “A única pessoa dentre as 30 que não aderiu ao movimento através dos vídeos da plataforma, aderiu através de sua filha e seu enteado que haviam visto os vídeos no YouTube e contaram à ela,” contou Asheley Landrum, que liderou as pesquisas na Universidade Tecnológica do Texas.
As entrevistas revelaram que a maioria vêm assistindo vídeos sobre outras conspirações também, que se alternam entre o 11 de Setembro, o tiroteio da escola Sandy Hook e se a NASA foi ou não à lua; quando então o YouTube recomendou vídeos sobre a Terra Plana para assistirem em seguida.
Alguns disseram ainda que assistiram aos vídeos apenas para desbancar a teoria, mas logo se encontraram convencidos pelo material.
Landrum disse que um dos vídeos mais populares sobre a Terra Plana, “200 provas de que a Terra não é uma bola que gira”, parecer ser efetivo porque oferece embasamento que apela para várias áreas do conhecimento, desde fontes bíblicas e teorias da conspiração, chegando até fontes científicas.
De um jeito ou de outro, os entrevistados estão crentes nessa teoria e questionam há muito tempo: “Onde está a curva?”, “porque o horizonte está sempre ao nível do olho?”
Landrum, a qual apresentou seus resultados na reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência em Washington DC, confessou que não acha o que o YouTube está fazendo errado, mas pensa que se o site quisesse ajudar, poderia alterar seu algoritmo para mostrar mais informação com procedência.
“Há muita informação útil no YouTube, mas também há muita desinformação,” disse Landrum. “Os algoritmos do site tornam fácil para uma pessoa acabar descendo a toca do coelho, ao apresentar uma informação à pessoas que serão mais suscetíveis à ela.”
Landrum convocou cientistas e outros colegas para criarem conteúdo no YouTube a fim de combater a proliferação de vídeos de conspiração. “Nós não queremos que o YouTube fique cheios de vídeos espalhando vários motivos para a Terra ser Plana. Nós precisamos de outros vídeos dizendo e mostrando que aqueles motivos não são reais e divulgando maneiras das pessoas descobrirem isso por elas mesmas.”
Porém, ela admitiu que alguns Terraplanistas não se curvariam perante palavras de um cientista. Quando o astrofísico americano Neil deGrasse Tyson explicou como partes pequenas de uma enorme superfície curva sempre pareceriam planas para pequenas criaturas rastejando sobre a mesma, sua mensagem foi vista como depreciativa e paternalista para alguns Terraplanistas, afirmou Landrum.
“Sempre haverá uma pequena porcentagem de pessoas que rejeitarão qualquer coisa dita por cientistas; mas talvez haja um pequeno grupo nesse meio que não fará o mesmo,” acrescentou ela. “A única arma que temos para combater a desinformação é confrontá-la com informações melhores”.
O Google, dono do YouTube, não forneceu um comentário quando questionado sobre isso.