Por Penny Higgins
Publicado na Skeptical Inquirer
A ciência é uma ferramenta utilizada para descrever nosso mundo, entender por que a realidade funciona dessa forma e prever qual pode ser o resultado de uma mistura de características. A ciência busca esse objetivo estudando apenas fenômenos “materiais”, significando coisas contáveis, mensuráveis, visíveis e tangíveis e fazendo o menor número possível de suposições. Sendo assim, os cientistas buscam eliminar pensamentos e conclusões equivocados por causa de questões de opinião, conflito pessoal, experiência ou conhecimento tendencioso (entre outras coisas).
Os cientistas abordam seu trabalho elaborando perguntas com parâmetros testáveis (hipóteses), executando testes (experimentos) e fornecendo sempre dentro da hipótese alguns meios pelos quais ela pode ser inequivocamente contestada. A maioria das experiências testa o poder preditivo da hipótese: “Se eu mistura o produto químico A e o produto químico B, devo obter o produto químico C e um lampejo de luz” ou “as pessoas que odeiam tomates também odeiam ketchup”.
Em seus experimentos, os cientistas buscam validar suas hipóteses – isto é, fazer observações que apoiam suas hipóteses. Se alguma vez, mesmo por um microssegundo, for observada uma coisa que refuta a hipótese, então toda a hipótese é mostrada falsa. Nesse ponto, o cientista começa novamente com uma hipótese nova ou revisada.
O ponto mais importante é que apenas um pequeno evento pode falsear uma hipótese: “Eu obtive o químico D” ou “Essa pessoa que odeia tomates adora absolutamente ketchup”. No entanto, nunca é possível obter provas absolutas, exceto na matemática, pois sempre existe a chance de que a única observação que poderia refutar a hipótese tenha sido perdida.
Se uma hipótese for submetida aos testes durante muitos anos e por muitas pessoas diferentes e não falhar, provavelmente, será enriquecida e elevada ao nível de “Teoria”. Na ciência, o termo “Teoria” é o mesmo que dizer que “temos certeza de que isso é absolutamente verdade, mas como a prova absoluta é impossível pela natureza da ciência, chamaremos isso de algo além de ‘verdade absoluta'”. Isso é honestidade científica básica; você não pode executar todos os experimentos ou fazer todas as observações.
Uma das teorias mais perseguidas atualmente é a teoria da evolução, que postula que todos os organismos deste planeta estão relacionados por meio de um ancestral comum e que há uma mudança gradual ao longo de períodos extremos de tempo que explica a diversidade de espécies. Com essa teoria, podemos prever e entender como e por que os organismos se comportam dessa maneira. Se uma pessoa quer entender por que cães, lobos e coiotes são capazes de cruzar, mas geralmente não o fazem, basta olhar para a evolução. Para entender por que o “joelho” dos pássaros dobra para trás – olhe para evolução. Por que, às vezes, quando estamos particularmente chateados, nos vemos comportando como macacos e o que podemos fazer sobre isso – voltamos à evolução. Como o DNA de um vírus pode infectar uma célula humana – estamos falando da evolução.
A ciência lida com o conhecimento material das coisas e procura desenvolver hipóteses que nos ajudarão a entender e a prever a natureza do nosso mundo. Recentemente, o conceito de “Design Inteligente” (DI) foi apresentado como uma “teoria” alternativa que explica a origem da diversidade da vida na Terra. A chave para a identificação é a noção de que muitos dos constituintes básicos que todos os organismos compartilham são complexos demais para surgirem de mudanças graduais. O DI propõe que algum agente externo ou inteligência seja responsável por fazer esses bits críticos.
Apesar disso, DI é ciência? Ele deve ser ensinado em uma sala de aula de ciências ao lado da teoria da evolução? Ele pode ser testado? Há observações falseáveis?
O DI pode potencialmente ser refutado pela observação de uma forma intermediária mais primitiva de alguma parte que foi apresentada como “muito complexa” para ser natural. Contudo, então, o indivíduo que está executando o experimento de identificação pode alterar sua hipótese para dizer que essa nova estrutura é a que foi inserida pelo Design Inteligente. Por esse motivo, não há parte do DI que possa ser inequivocamente falseada pela ciência.
A segunda parte do DI pede um designer externo. Essa ideia não é totalmente apoiada nem totalmente falseada pela observação. Não existe uma maneira científica de testar a presença ou ausência do designer, pois ele é definido como algo não observável, ou pelo menos, apenas observável para alguns escolhidos.
Uma das características mais importantes das hipóteses e teorias científicas é o poder preditivo que elas fornecem. O DI não oferece nenhuma nova explicação ou observação sobre essas estruturas complexas que a teoria da evolução ainda não fornece. A observação de que algumas estruturas dos organismos são complexas demais para se originarem de mudanças graduais não ajudará os cientistas a desenvolver um antibiótico melhor, por exemplo. De fato, a ideia de que “algumas coisas são complexas demais” é anticientífica, pois parece sugerir que não devemos tentar entender as origens das estruturas complexas. O DI nos desencoraja a procurar e fazer perguntas. A verdadeira ciência, no entanto, segue em frente. Se mais tarde alguém descobrir que algumas estruturas nos organismos não possuem contrapartes mais primitivas, a ciência observará e reconhecerá esse fato e o novo conhecimento será incorporado à teoria da evolução.
O DI não é uma teoria científica e não deve ser ensinado ao lado da teoria da evolução. Não oferece nada para ajudar os alunos a entender como a ciência funciona. É apenas uma declaração de como a vida parece complexa – nem sequer vale uma hora de aula.