Artigo originalmente publicado no site Ciência Todo Dia e escrito por Pedro Loos.
Você já deve ter ouvido falar na missão da sonda Rosetta. Caso ainda não saiba do que se trata, a sonda Rosetta será a primeira missão na história a realizar rendezvouz com um cometa, isto é, ir ao encontro a ele, entrar em sua órbita e pousar em sua superfície para estudá-lo. A sonda já está à caminho do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko há 10 anos e já passou por dois asteroides em sua viagem. Em junho de 2011, a sonda entrou no modo de hibernação e só acordou em 20 de janeiro de 2014, com a famosa campanha Wake Up Rosetta (#wakeuprosetta). A previsão para o pouso na superfície do cometa é em novembro deste ano.
Quando paramos para pensar, nos damos conta de que essa missão não é nada fácil. Pousar uma sonda – que é fruto de 20 anos de trabalho entre alguns dos melhores cientistas do mundo e da Europa – em um cometa que está a cerca de 520 milhões de quilômetros do Sol não é uma tarefa que qualquer um possa realizar.
Mas… por que devemos estudar os cometas?
Não é novidade para nós que os cometas sejam alguns dos objetos mais antigos do sistema solar. Estudá-los e entender a sua composição é apenas parte do processo necessário para entender a origem do sistema solar e a sua evolução. A composição dos cometas pode nos ajudar a entender do que era feita a nebulosa planetária que deu origem a nossa estrela hospedeira e também entender a origem dos planetas que compõe o sistema solar.
Além disso, existe uma forte evidência de que os cometas tenham um papel-chave na evolução dos planetas, porque as colisões entre cometas e planetas eram muito mais comuns no começo do sistema solar do que são agora. Os cometas provavelmente trouxeram a maior parte da água que temos hoje nos oceanos da Terra. Eles podem até ter sido os responsáveis pelo surgimento dos primeiros complexos orgânicos do planeta, o que os torna basicamente responsáveis pelo surgimento da vida e a evolução dela na Terra.
É no fato de os cometas serem os mais antigos corpos do sistema solar ao nosso alcance que a missão Rosetta se baseia. Eles preservam a matéria basicamente como era encontrada nos primeiros momentos do nosso sistema solar, alguns até com o material encontrado nas nebulosas planetárias, a imensa nuvem de poeira que vai se agregando até formar o sol, os planetas e tudo o que temos no sistema solar. Os planetas passaram por transformações químicas, mas os cometas continuam praticamente intocados desde a sua formação. Eles são a cápsula do tempo cósmica. Entender do que eles são feitos é um grande passo rumo à resposta de algumas das nossas perguntas. Quem sabe até os segredos da vida se escondam no núcleo de uma dessas cápsulas do tempo cósmica.