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Precisamos falar sobre o rápido declínio de insetos ao redor do mundo

Traduzido por Julio Batista
Original de Mike McRae para o ScienceAlert

Apocalipse ou revolução? Dependendo do estudo que ganhou as manchetes, o número de insetos em todo o mundo está em queda livre dramática ou simplesmente em um estado de transição alarmante, com algumas espécies até mesmo se beneficiando das mudanças climáticas.

Enquanto os pesquisadores debatem os detalhes, a maioria concorda que nosso estilo de vida atual está fundamentalmente ligado ao número de insetos e, a menos que ajamos rápido, podemos esperar problemas no futuro.

Em uma série de papers publicados nos últimos Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), os especialistas somam o estado dos números dos insetos como uma medida de biomassa, números individuais e espécies. E não importa a maneira como dividimos isso, é um problema que realmente precisamos resolver.

Saul Cunningham, da Universidade Nacional da Austrália, não foi um dos 56 autores que contribuíram para os papers. Mas, como Diretor da Escola Fenner de Meio Ambiente e Sociedade da universidade, ele está ciente da importância dos insetos para o nosso bem-estar comunitário.

“Os insetos são extremamente importantes para os processos ecológicos dos quais os humanos dependem, incluindo o fornecimento de alimentos e a reciclagem de nutrientes para o solo”, disse Cunnigham.

“É por isso que eles são descritos como as coisinhas que governam o mundo.”

Essas ‘coisinhas’ têm executado processos ecológicos vitais por centenas de milhões de anos, diversificando-se em mais de um milhão de espécies existentes. E essas são apenas as que contamos. É difícil imaginar um mundo sem eles.

Ainda assim, nas últimas décadas, os intervalos e as proporções de muitas espécies caíram significativamente, provavelmente devido a fatores como mudanças de temperatura, precipitação, perda de habitat e uso de pesticidas.

As estatísticas mais comumente citadas colocam estimativas de perda de biomassa de insetos em torno de 1 a 2 por cento ao ano – um número chocante que se torna ainda mais alarmante quando as variações locais são levadas em consideração, com algumas áreas tendo perdas de 10 por cento ou mais a cada ano.

“Eles também mostram que o declínio dos insetos não é universal, com perdas não aparentes em algumas outras regiões”, disse Cunnigham.

“Os estudos acrescentam urgência significativa ao caso de que precisamos desenvolver práticas agrícolas que apoiem populações saudáveis ​​e diversificadas de insetos.”

Não só o declínio não é universal, como em algumas partes do globo os insetos estão tendo um dia de glória. Especialmente em climas temperados, muitas espécies estão crescendo, provavelmente devido ao aumento das temperaturas que empurra as faixas de habitat em direção aos polos.

É um ótimo momento para estar vivo se você for uma espécie de mariposa no sul da Grã-Bretanha, por exemplo. Com as leis de proteção ambiental limpando os cursos d’água, as populações de insetos aquáticos e besouros estão aumentando.

Mas só porque o quadro geral é complicado, isso não significa que devemos ser complacentes. Por um lado, mesmo a perda de algumas espécies menos robustas em meio às mudanças climática globais pode ser um sinal de que o pior está por vir.

Quanto às populações de insetos prósperas, um excedente de mariposas, aranhas-d’água e baratas não significará muito quando as safras de alimentos fracassarem decorrente da perda de polinizadores ou quando o lixo transbordar por falta de detritívoros especializados.

O entomologista Akito Kawahara, do Museu de História Natural da Flórida (EUA), foi coautor de um dos artigos de opinião do jornal, pedindo às comunidades que façam mais para garantir que haja muitos insetos por aí para continuar seu trabalho árduo.

“Só nos Estados Unidos, os insetos selvagens contribuem com uma estimativa de US$ 70 bilhões para a economia todos os anos por meio de serviços gratuitos como polinização e eliminação de resíduos. Isso é incrível, e a maioria das pessoas não tem ideia”, disse Kawahara.

Ele e sua equipe elencaram diversas ações simples que todos podemos empreender para fazer a nossa parte para garantir que a biodiversidade local continue forte.

Por exemplo, manter as luzes externas apagadas à noite ou trocar as lâmpadas para evitar atrair insetos para longe de seus habitats, onde viveriam muito melhor; lavar o carro e a garagem com sabonetes biodegradáveis ​​e usar selantes à base de soja

Algumas das sugestões nem requer levantar a bunda da cadeira. Tem um gramado? Fique sem cortar ele por algumas semanas. Melhor ainda, tire uma parte dele e substitua por algumas vegetações nativas. Kawahara recomenda reservar uma parte do espaço do seu quintal para insetos, o que significa nenhum pesticida e muitas opções de vegetação.

“Se cada casa, escola e parque local nos Estados Unidos convertessem 10% do gramado em habitat natural, isso daria aos insetos mais de 4 milhões de acres de habitat”, ele aconselha.

Esperançosamente, 2021 verá ainda mais estudos sobre o número de insetos em fluxo ao redor do nosso planeta, nos revelando uma cena complexa de espécies em queda livre e outras prosperando. Precisaremos de todas as informações que pudermos obter.

“Podemos aprender com aqueles lugares que não estão testemunhando declínios dramáticos de insetos”, disse Cunnigham.

“Globalmente, não estamos monitorando as populações de insetos de uma forma generalizada ou sistemática, o que limita nosso poder de resposta.”

Esta pesquisa foi publicada no PNAS.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.