Publicado na Psychological Science
Aprender a acelerar a leitura parece ser uma boa estratégia para trabalhos rápidos do nosso dia a dia como ler e-mails, relatórios e outros tipos de texto, mas uma recente revisão da literatura científica por trás da leitura mostrou que as promessas apresentadas por muitos programas de leitura rápida e cursos de leitura dinâmica são muito bons para serem verdade.
Examinando décadas de pesquisa sobre a ciência da leitura, uma equipe de cientistas encontrou pouca evidência para apoiar a leitura acelerada como um atalho para a compreensão e memorização de grandes volumes de conteúdo em um curto período de tempo. O relatório, publicado na Psychological Science in the Public Interest, mostra que não há atalhos mágicos quando se trata de ler mais rapidamente, enquanto ainda esperamos compreender integralmente o texto lido. “As evidências científicas disponíveis demonstram que há um trade-off entre velocidade e precisão – como os leitores passam menos tempo no material, eles necessariamente terão uma compreensão mais pobre dele”, explica Schotter.
Por que a leitura rápida não funciona?
A leitura é uma dança complexa entre vários processos visuais e mentais e pesquisas mostram que bons leitores já leem rapidamente, com uma média de 200 a 400 palavras por minuto. Algumas tecnologias de leitura dinâmica afirmam oferecer um potencial adicional, eliminando a necessidade de movimentação visual, permitindo que os olhos descansem em um ponto, ao apresentar palavras rapidamente no centro de uma tela de computador ou dispositivo móvel, com cada nova palavra substituindo a palavra anterior. O problema, segundo Schotter e seus colegas, é que essa movimentação visual representa não mais do que 10% do tempo total que passamos lendo e a eliminação da capacidade de retroceder e reler palavras e sentenças anteriores tende a piorar a compreensão geral, não melhorar.
O maior obstáculo para a leitura rápida, segundo a ciência, não é a nossa visão, mas sim a nossa capacidade de reconhecer as palavras e processar essa combinação produzindo frases com sentido. “As soluções que enfatizam acelerar a retenção de texto sem tornar a linguagem mais fácil de entender terão eficácia limitada”, diz Schotter.
Enquanto alguns podem reivindicar habilidades prodigiosas de leitura, estas afirmações normalmente não se mantêm quando posto à prova. As investigações mostram que esses indivíduos geralmente já sabem muito sobre o conteúdo do que supostamente possuem uma maior velocidade de leitura. Sem esse conhecimento, eles muitas vezes não lembram do que leram e não são capazes de responder questões substanciais sobre o texto.
No entanto, isso não significa que estamos presos a uma mesma velocidade de leitura o tempo todo. Pesquisas mostram que o skimming – passar os olhos no texto priorizando o que é mais informativo e descartando outras partes – pode ser eficaz quando estamos interessados apenas em obter a essência do que estamos lendo, ao invés de uma compreensão mais profunda, mais abrangente. Na verdade, os dados sugerem que os leitores de velocidade mais eficazes são realmente skimmers, que já têm familiaridade considerável com o tópico em questão e, portanto, são capazes de pegar os pontos-chaves rapidamente.
Então, é impossível aprimorar a velocidade de leitura?
Não é bem isso que os cientistas pretendem esclarecer. A única coisa que pode de fato, aumentar a capacidade de leitura geral é, você adivinhou, ler mais. A maior exposição à escrita em todas as suas diferentes formas nos fornece um vocabulário maior e mais rico, bem como a experiência contextual que pode nos ajudar a antecipar as próximas palavras e fazer inferências sobre o significado de palavras ou frases que não reconhecemos imediatamente.
“Não há solução rápida”, diz Schotter. “Nós pedimos às pessoas que mantenham uma dose saudável de ceticismo e procurem evidências científicas quando alguém propõe um método de leitura de velocidade que duplicará ou triplicará sua velocidade de leitura sem sacrificar uma compreensão completa”. Em última análise, não há nenhuma habilidade ou estratégia que nos permitirá terminar um romance ou processar uma caixa de entrada cheia de e-mails ao longo de uma pausa para o almoço.