Peter Fonagy (1952) é um psicólogo e psicanalista inglês, professor de psicologia da University College London. Fonagy ficou conhecido por ter desenvolvido um modelo de mentalização aplicado à psicoterapia, derivado da psicoterapia baseada em mentalização, que é aplicado no tratamento de transtornos mentais. Apesar disso, não pretendo discutir a validade de sua psicoterapia à luz da ciência, mas pretendo expor apenas a conclusão de um de seus artigos sobre a psicanálise.
Em seu artigo Psychoanalysis Today (2003), publicado no journal World Psychiatry, Fonagy faz duras críticas epistemológicas à psicanálise e propõe uma solução para salvá-la. Abaixo, segue uma tradução do abstract e da conclusão do artigo:
RESUMO
Discute-se a posição precária da psicanálise, uma abordagem terapêutica que historicamente tem-se definido pela liberdade da restrição e duração do tratamento, não em termos de número de sessões, mas em termos de anos, na era atual de tratamentos empiricamente validados. (…) A evidência de que existe eficácia da psicanálise como um tratamento para o distúrbio psicológico é revisto. A base de evidência é significativa e crescente, mas menos do que poderia satisfazer os critérios de uma terapia com base empírica. (…) A ausência de evidências pode ser sintomática das dificuldades epistemológicas que a psicanálise enfrenta no contexto da psiquiatria do século XXI. (…) Examina-se alguns dos problemas filosóficos enfrentados pela psicanálise como um modelo da mente. Finalmente, argumenta-se que algumas mudanças serão necessárias a fim de assegurar um futuro para a psicanálise dentro da psiquiatria.
CONCLUSÃO
O nosso objetivo deve ser o de ajudar o movimento da psicanálise em relação à ciência. A fim de garantir um futuro para a psicanálise dentro da psiquiatria. Psicanalistas devem mudar sua atitude em direção a uma visão mais sistemática. Esta mudança de atitude seria caracterizada por vários componentes: (a) A base de evidência da psicanálise deve ser reforçada através da adoção de métodos de recolha de dados adicionais que estão agora amplamente disponíveis na ciência biológica e social. (b) A lógica do discurso psicanalítico precisaria mudar… (…) de sua dependência retórica para o uso construções específicas que permitem recolher dados cumulativos. (c) Falhas no raciocínio psicanalítico, como falhas em considerar meios alternativos para observações, devem ser superadas e, em particular, a questão da influência genética e social devem ser abordadas com maior sofisticação. (d) O isolamento da psicanálise deve ser substituída por uma colaboração ativa de outras disciplinas da saúde mental. Em vez de temer que os campos adjacentes à psicanálise destruam percepções únicas oferecidas pelo trabalho clínico, precisamos abraçar a “cadeia de conhecimento” que evolui rapidamente focada em diferentes níveis de estudo da relação cérebro-comportamento, que, como Kandel (1998 e 1999) aponta, pode ser a única rota para a preservação dos insights duramente conquistados pela psicanálise.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar do artigo ter sido escrito em 2003, suas críticas parecem ter sido feitas ontem, uma vez que a psicanálise persiste atrasada em todas suas abordagens: (a) A psicanálise ainda persiste à margem da comunidade acadêmica. (b) Psicanalistas continuam não realizando experimentos laboratoriais. (c) Psicanalistas continuam não interagindo com o conhecimento da biologia, da psicologia e das neurociências. (d) Hipóteses falsas e não testáveis continuam sendo reproduzidas (repressão de memórias traumáticas, complexo de Édipo). (e) Terapias psicanalíticas, mesmo ainda não sendo baseadas em sólidas em evidências, continuam sendo usadas.
REFERÊNCIAS
- FONAGY, P. (2003). Psychoanalysis today. World Psychiatry, 2(2), 73–80. <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1525087/>
- KANDEL. E. R. (1998). A new intellectual framework for psychiatry. The American Journal of Psychiatry,155(4): 457–469. doi: 10.1176/ajp.155.4.457
- KANDEL. E. R. (1999). Biology and the future of psychoanalysis: a new intellectual framework for psychiatry revisited. The American Journal of Psychiatry, 156(4): 505–524. doi: 10.1176/ajp.156.4.505