Pular para o conteúdo

Riscos cardiovasculares em pessoas na região de Brumadinho

Por Vitor Engrácia Valenti
Publicado na UNESP Agência de Notícias

O rompimento da barragem ocorrido em Brumadinho/MG desencadeou gravíssimos prejuízos para diversas famílias. De acordo com uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz, a área das populações afetadas abrange dezenas de quilômetros no raio do Rio Paraopeba. A possibilidade de um surto de doenças já foi levantada, incluindo febre amarela, dengue, leptospirose e esquistossomose.  Além disso, os efeitos em curto prazo da exposição aos metais pesados (alumínio, manganês, ferro, por exemplo) têm relação com sintomas como tontura, diarreia e vômito, devido ao impacto no sistema nervoso central.

Dentro desse contexto, o Centro de Estudos do Sistema Nervoso Autônomo, grupo de pesquisa cadastrado no CNPq vinculado à UNESP de Marília, levantou estudos que investigaram a relação da exposição a metais pesados com riscos no sistema cardiovascular. A intenção é alertar a população que foi e que está sendo exposta aos metais pesados. É importante destacar que moradores, trabalhadores sobreviventes, bombeiros e equipe de imprensa estão nessa condição.

A exposição aos metais pesados pode ocorrer de duas maneiras: 1) Ingestão por via oral; 2) Exposição por via respiratória, pela cavidade nasal.

Por via oral, os metais pesados chegam até a corrente sanguínea após passar pelo trato gastrointestinal. Quando a exposição é por via respiratória, os metais pesados entram na corrente sanguínea por meio do contato dos alvéolos com os vasos sanguíneos, de modo que os metais pesados são depositados no sangue.

Um grupo do Japão já havia evidenciado que a exposição a metais pesados é responsável por respostas fisiopatológicas maléficas para a célula, incluindo comprometimentos da musculatura lisa dos vasos sanguíneos, facilitando o desenvolvimento de doenças vasculares.

Outra pesquisa realizada nos Estados Unidos (EUA) mostrou que os vasos sanguíneos são um alvo crítico da toxicidade da exposição ao metal pesado. Além disso, reforçou que as ações dos metais pesados nos vasos sanguíneos podem desempenhar papéis importantes na mediação dos efeitos fisiopatológicos em diferentes órgãos, como os rins, pulmões e fígado. Essa exposição compromete o funcionamento desses órgãos.

Em 2014, dados levantados pelo Houston Methodist Research Institute apontaram que existem evidências convincentes ligando a toxicidade do metal pesado à disfunção neuronal. Nesse sentido, o comprometimento dos neurônios influencia os reflexos cardiovasculares, colaborando para o desenvolvimento de doenças como hipertensão, arritmias e acidente vascular encefálico.

Por último, mais recentemente, pesquisadores da NC State University (EUA) levantaram 36 estudos epidemiológicos e indicaram o impacto negativo da exposição a metais pesados no desenvolvimento da síndrome metabólica, que abrange quadros como diabetes, dislipidemia, obesidade e hipertensão.

Em suma, as pesquisas levantadas indicam alto grau de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares em indivíduos expostos aos metais pesados na região de Brumadinho e ao redor do Rio Paraopeba. Portanto, é muito importante que a saúde das pessoas nessas condições seja monitorada constantemente.

Referências

  1. Lin CH, Hsu YT, Yen CC, Chen HH, Tseng CJ, Lo YK, Chan JYH. Association between heavy metal levels and acute ischemic stroke. J Biomed Sci. 2018 May 25;25(1):49.
  2. Prozialeck WC, Edwards JR, Nebert DW, Woods JM, Barchowsky A, Atchison WD. The vascular system as a target of metal toxicity. Toxicol Sci. 2008 Apr;102(2):207-18. Epub
  3. Mitra J, Vasquez V, Hegde PM, Boldogh I, Mitra S, Kent TA, Rao KS, Hegde ML. Revisiting Metal Toxicity in Neurodegenerative Diseases and Stroke: Therapeutic Potential. Neurol Res Ther. 2014;1(2). pii: 107.
  4. Planchart A, Green A, Hoyo C, Mattingly CJ. Heavy Metal Exposure and Metabolic Syndrome: Evidence from Human and Model System Studies. Curr Environ Health Rep. 2018 Mar;5(1):110-124.
  5. OLIVEIRA, Sibele. Brumadinho corre risco de surto de doenças, alerta estudo. Revista Galileu, São Paulo, 06 de fev. de 2019. Disponível em: <https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2019/02/brumadinho-corre-risco-de-surto-de-doencas-alerta-estudo.html>. Acesso em: 18 de dez. de 2019.
  6. NOGUEIRA, Mariana. Surto de doenças em Brumadinho poderá acontecer, alerta Fiocruz. O Tempo, 05 de fev. de 2019. Disponível em: <https://www.otempo.com.br/cidades/surto-de-doencas-em-brumadinho-podera-acontecer-alerta-fiocruz-1.2131786>. Acesso em: 18 de dez. de 2019.