Publicado no Servicio de Información y Noticias Científicas
Ela mantém o equilíbrio ao subir em saltos de mais de dez centímetros. Sua maquiagem é impecável e carrega algumas lentes de contato coloridas que dão um olhar felino. Seu cabelo contrasta com a barba escura. Veste uma roupa preta e não deixa um centímetro de pele descoberta: camiseta de manga longa, minissaia modelada, meias e luvas que não impedem um esmalte fluorescente.
Com a estrutura atômica do grafeno, o material do futuro por suas propriedades promissoras, envolvendo seu cabelo e pescoço, ela não passou despercebida entre cientistas e jornalistas que comiam e bebiam champanhe na recepção do congresso bienal Euroscience Open Forum (ESOF).
Ela é Sassy Science, a primeira divulgadora da ciência drag queen do mundo. “Não vi nada igual. Talvez seja… mas temo que não”, conta Javier Armentia, criador do site Ciencia LGBTBIQ, que se declara “superfã” da personagem.
Sassy Science é a personagem de Mario Peláez (Langreo, 1922), um estudante de doutorado no Instituto de Nanociência de Aragão e apaixonado pelos estudos com o grafeno. Seu projeto de divulgação drag queen surgiu da oficina de comunicação que recebeu da Enabling Excellence, uma rede internacional de formação, que recebe anualmente 13 doutorandos em nanociências e nanotecnologias, financiada pela União Europeia.
“O projeto de Mario me encantou”, diz Chris Ewels, coordenador do projeto europeu, que sublinhou: “Estive envolvido em muitos projetos de extensão, mas nunca vi qualquer coisa como Sassy Science”. Ewels explica que, a princípio, não entendeu bem a ideia de Mario e recorda olhar com ceticismo os vídeos que ele enviava.
Peláez, mesmo se sentindo como um “pai orgulhoso”, sempre foi claro: “A comunicação é um pilar para fazer ciência, escrever um bom artigo, fazer uma boa palestra ou apresentar um bom pôster”.
Em Toulouse, seu pôster era o único que contava com um tablet onde mostrava seus vídeos do YouTube: “Sou Dra. Sassy, ativista LGBT abertamente bissexual, drag queen amateur e estudante de física”, era como se apresentou com um inglês perfeito em seu primeiro vídeo transmitido em julho do ano passado.
A divulgação millennial
Como um bom millennial, Mario Peláez aposta nas redes sociais para divulgar a ciência e denunciar o sexismo, o racismo e a homofobia nas disciplinas STEM, que incluem a ciência, a tecnologia, a engenharia e a matemática.
No momento, Peláez conta com um perfil no Instagram e um canal no YouTube, onde começou a publicar alguns vídeos sobre “rainhas”, tal e como se refere as pesquisadoras atuais e históricas, que são e foram invisibilizadas.
Em seu canal do YouTube, existem vídeos sobre a química Rosalind Franklin e a física Lise Metiner. Ele diz também que quer gravar mais sobre Ada Lovelace e Marie Curie, embora admita com humor que a cientista polaca terá um especial.
Por enquanto, as reações de sua personagem têm sido positivas. Mario conta que se sente “muito agraciado” por parte do projeto europeu que o viu nascer e o laboratório onde trabalha. Enquanto isso, Ewels valoriza o esforço do jovem: “Mario é apaixonado pelo que faz e Sassy Science tem tirado de sua zona de conforto. Tem muito mérito assistir a um congresso [ESOF] com milhares de participantes vestidos de drag“.