Pular para o conteúdo

Sinais falsos de vida em mundos alienígenas

O que antes era considerado um sinal infalível de vida em planetas distantes pode não ser tão infalível afinal, sugere um novo estudo. Em vez disso, ele pode simplesmente ser o artefato de um mundo (e sua lua) sem vida.

“Eu gosto deste paper. É um grande conceito”, diz Sara Seager, uma cientista planetária da Massachusetts Institute of Technology em Cambridge. “Eu acho que a comunidade científica gradualmente vem percebendo que é impossível ter a certeza absoluta, com base em sua atmosfera, que um exoplaneta hospeda vida.”

A vida em planetas que orbitam outras estrelas não tem que literalmente transmitir a sua existência: O sinal de rádio é apenas uma maneira da qual os cientistas terrestres usam para procurar atividade biológica em outras partes do universo, diz Hanno Rein, cientista planetário da University of Toronto, em Scarborough, no Canadá. Os sinais de vida são muito mais propensos a serem sutis, especialmente se os organismos são simples. Uma maneira de olhar para essas pistas é a busca de evidências químicas, particularmente na luz que passa através das atmosferas dos planetas, diz Rein. Ao comparar o espectro de luz que passa através da atmosfera de um exoplaneta com a da luz não filtrada emitida por sua estrela-mãe, os astrônomos podem identificar as substâncias presentes no ar do exoplaneta.

Até agora, os cientistas ainda não conseguiram entrar em um acordo sobre um único produto químico – oxigênio, por exemplo – que pode ser um sinal conclusivo de vida extraterrestre. Mas os pesquisadores geralmente concordam que certas combinações de duas ou mais substâncias químicas em uma atmosfera de exoplaneta pode ser um forte sinal de vida, disse Rein. Aqui está a ideia: uma mistura de gases que reagiria normalmente até que um suma completamente, simplesmente não pode existir a longo prazo, a menos que um ou ambos os gases seja constantemente reabastecido – possivelmente pela atividade biológica das formas de vida. Um exemplo fácil de entender, diz Rein, é uma mistura de metano e oxigênio. Estas duas substâncias reagem para formar o dióxido de carbono. E se a vida na Terra não estava produzindo continuamente estes dois gases, as reações químicas entre os dois eventualmente “dissiparia” o menos predominante da atmosfera, deixando apenas o outro.

Agora, Rein e seus colegas propõem um cenário que poderia facilmente levar os pesquisadores à procura de vida extraterrestre. E se um exoplaneta distante tem uma lua com uma atmosfera própria? E além disso, e se a atmosfera da “exolua” incluir grandes quantidades de um gás que normalmente reage em uma atmosfera de exoplaneta? Mesmo que nem o corpo hospede a vida, a luz combinada dos dois objetos pode ser facilmente confundida como tendo passado por uma única atmosfera de um corpo que abriga vida, os pesquisadores relataram hoje na revista Proceedings of National Academy of Sciences.

Na verdade, com os atuais instrumentos e técnicas de observação, os astrônomos podem até não reconhecer que o exoplaneta distante tem uma lua, disse Rein. Os dois corpos seriam tão próximos que, como visto da Terra, sua luz se misturaria em uma mancha. Considere-se, diz Rein, o espectro de luz que os astrônomos distantes podem ver se a Terra – cuja atmosfera é mais do que 20% de oxigênio – tem uma lua com uma atmosfera rica em metano como lua de Saturno, Titã. Neste caso, a única mancha de luz poderia conter sinais de ambos os gases reativos.

“É realmente uma maneira muito interessante para se obter um ‘falso positivo'” para a vida extraterrestre, diz Wesley Traub, cientista planetário da NASA’s Jet Propulsion Laboratory em Pasadena, Califórnia. Os cientistas poderiam ser facilmente enganados por um espectro tão misturado, e é provável que eles seriam enganados por um bom tempo. E se os cientistas detectarem tal espectro, “não estará claro qual será o próximo passo”, sugere Wesley. Muitas das técnicas utilizadas atualmente para detectar exoplanetas – tais como observações de seu efeito gravitacional sobre os movimentos de suas estrelas-mãe, ou mini-eclipses que ocorrem regularmente à medida que passam na frente das estrelas como visto da Terra – não são sensíveis o suficiente para detectar a presença de uma exolua.


Artigo publicado na Science com o título False Signs of Life on Alien Worlds.

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Divulgador Científico há mais de 10 anos. Fundador do Universo Racionalista. Consultor em Segurança da Informação e Penetration Tester. Pós-Graduado em Computação Forense, Cybersecurity, Ethical Hacking e Full Stack Java Developer. Endereço do LinkedIn e do meu site pessoal.