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Tardígrados podem montar em caracóis para chegar a um destino, mesmo que isso signifique a morte

Por Mindy Weisberger
Publicado na Live Science

Viajar de caracol pode não parecer a maneira mais rápida de se locomover, mas é mais rápido do que caminhar… se você for um tardígrado.

Tardígrados gorduchos com suas oito patas – organismos quase microscópicos que também são conhecidos como urso-d’água – podem pegar carona em caracóis terrestres para viajar mais longe do que poderiam por conta própria, segundo uma nova pesquisa.

Mas enquanto surfar caracóis ajudava os tardígrados a se dispersarem em novos locais, uma camada de muco viscoso dos caracóis muitas vezes se mostrava fatal para os tardígrados.

Os tardígrados medem de 0,05 a 1,2 milímetros de comprimento e podem viver em praticamente qualquer lugar da Terra onde haja água líquida: em oceanos, rios e lagos e em aglomerados úmidos de líquen e musgos que crescem em rochas e árvores.

Ursos-d’água também podem suportar circunstâncias que seriam fatais para a maioria das formas de vida, como temperaturas extremas, pressão esmagadora, radiação ultravioleta (UV), vácuo do espaço e até mesmo ser disparado de uma arma de alta velocidade, exercendo um super-poder conhecido como anidrobiose – expelindo quase toda a água em seus corpos.

Nesta forma desidratada e encolhida, um tipo de estado de latência, os tardígrados podem sobreviver a condições castigantes e podem persistir por anos; alguns tardígrados nesse estado de latência que foram congelados por 30 anos foram ressuscitados com sucesso em 2016 e imediatamente começaram a se reproduzir, informou a Live Science anteriormente.

E pesquisadores descobriram recentemente que tardígrados ativos e em estado de anidrobiose podem ser apanhados e carregados por caracóis terrestres que compartilham seus habitats.

Embora os tardígrados possam nadar e andar, suas perninhas não os levam muito longe. Um tardígrado em busca de uma nova vizinhança, portanto, precisa de ajuda externa, como vento, água corrente ou um animal hospedeiro amável que seja úmido o suficiente para manter o viajante vivo.

Pouco se sabe sobre como os tardígrados interagem com os caracóis em seus habitats naturais, mas como os ursos-d’água geralmente vivem lado a lado com os caracóis terrestres (que são famosos por umidade), os pesquisadores suspeitaram que os caracóis poderiam ser “veículos perfeitos para os tardígrados” viajarem de lugar a lugar, de acordo com um estudo publicado em 14 de abril na revista Scientific Reports.

Espécies de tardígrados Milnesium inceptum usadas em experimentos; o quadrinho ao lado mostra um tardígrado no estado de latência. Créditos: Zofia Książkiewicz / Milena Roszkowska.

“Verificando a literatura disponível, descobrimos que esse tópico era quase inexplorado”, disse Zofia Książkiewicz-Parulska, principal autora do estudo, professora assistente do Instituto de Biologia Ambiental da Universidade Auxiliar da Marinha (UAM) na Polônia e a coautora Milena Roszkowska, doutorando da UAM no Departamento de Bioenergética.

A única pesquisa anterior sobre o assunto – datada de mais de 55 anos atrás – descrevia observações de tardígrados que viajavam dentro das entranhas dos caracóis depois de serem comidos e depois saíam nas fezes dos moluscos, disseram os pesquisadores à Live Science por e-mail.

Para testar sua hipótese de tardígrado pegando carona, os autores do estudo coletaram caracóis-de-bosque (Cepaea nemoralis) e tardígrados Milnesium inceptum; as duas espécies coexistem em ecossistemas terrestres em toda a Europa Ocidental, e ambas são mais ativas em condições úmidas. As conchas dos caracóis-de-bosque medem até 22 mm de diâmetro, tornando os moluscos bons candidatos para transportar tardígrados, relataram os pesquisadores.

Em seus experimentos, os cientistas enviaram caracóis rastejando através de poças de água e sobre pedaços de musgo contendo tardígrados, para ver quantos “ursinhos” os caracóis pegariam.

Cepaea nemoralis em seu ambiente natural. Créditos: Zofia Książkiewicz / Milena Roszkowska.

Tardígrados ativos e em estado de anidrobiose aderiram prontamente aos corpos cobertos de limo dos caracóis para passeios curtos; os caracóis transportaram 38 tardígrados caroneiros de poças de água e reuniram 12 tardígrados caroneiros de musgo.

Em alguns dos experimentos, os pesquisadores cercaram a poça de água dos tardígrados com uma barreira física; nesses ambientes, os únicos tardígrados que cruzaram essa barreira o fizeram com a ajuda de um “veículo” de caracol, de acordo com o estudo.

Um tardígrado em um musgo-branco reidratado. Créditos: Książkiewicz & Roszkowska, Sci. Rep., 2022.

Mas também havia uma desvantagem mortal no revestimento de muco pegajoso dos caracóis, uma vez que secou nos minúsculos corpos dos tardígrados.

Apenas uma fração dos ursinhos em estado de latência que foram revestidos com muco seco de caracol – cerca de 34% – puderam ser revividos após 24 horas. Em comparação, 98 por cento dos tardígrados em estado de latência do grupo de controle que não foram hidratados tornaram-se totalmente ativos novamente quando foram reidratados.

O muco de caracol é principalmente água, mas seca rapidamente, e os tardígrados em estado de latência revestidos de muco que foram brevemente revividos pela água na gosma de caracol podem não ter sido capazes de reentrar em um estado de latência com rapidez suficiente, pois o invólucro viscoso ao redor deles endureceu e eles congelaram em “poses muito estranhas” que não eram uma anidrobiose completa, disseram os cientistas no e-mail.

Outras forças podem transportar tardígrados muito mais longe do que os caracóis; estudos anteriores mostraram que rajadas de vento nas geleiras podem transportar tardígrados por distâncias superiores a 1.000 quilômetros, escreveram os autores do estudo.

No entanto, um tardígrado que anda no vento pode acabar em algum lugar que não seja muito hospitaleiro para os ursos-d’água. É mais provável que uma jornada de caracol deposite seu caroneiro em um ambiente semelhante àquele em que começou – um onde os tardígrados (e os caracóis) provavelmente prosperarão.

Outros experimentos podem confirmar se os ovos de tardígrados também podem pegar carona em caracóis e podem testar até onde um tardígrado pode viajar de caracol, disseram os pesquisadores.

Mas mesmo que a nova casa do tardígrado viajante esteja a apenas alguns centímetros de distância, ainda é longe o suficiente para melhorar a diversidade genética entre diferentes populações de ursos-d’água, de acordo com o estudo.

Isto é, desde que o tardígrado caroneiro evite ser sufocado pela gosma de caracol antes que sua viagem termine.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.