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Um evento de extinção em massa está no horizonte se a vida marinha continuar fugindo do equador

Traduzido por Julio Batista
Original de Anthony Richardson para o The Conversation

A água tropical no equador é conhecida por ter a mais rica diversidade de vida marinha da Terra, com vibrantes recifes de coral e grandes agregados de atuns, tartarugas marinhas, mantas e tubarões-baleia. O número de espécies marinhas diminui naturalmente à medida que você se dirige para os polos.

Os ecologistas presumiram que esse padrão global permaneceu estável nos últimos séculos – até agora. Nosso estudo recente descobriu que o oceano ao redor do equador já se tornou muito quente para muitas espécies sobreviverem e que o aquecimento global é o responsável.

Em outras palavras, o padrão global está mudando rapidamente. E à medida que as espécies fogem para águas mais frias em direção aos polos, é provável que tenha profundas implicações para os ecossistemas marinhos e a subsistência humana. Quando a mesma coisa aconteceu há 252 milhões de anos, 90% de todas as espécies marinhas morreram.

A curva em formato de sino está se deformando de forma perigosa

Este padrão global – onde o número de espécies é mais baixo nos polos e apresenta picos no equador – resulta em um gradiente em formato de sino na diversidade de espécies. Observamos os registros de distribuição de quase 50.000 espécies marinhas coletadas desde 1955 e encontramos uma queda crescente ao longo do tempo neste formato de sino.

Assim, à medida que nossos oceanos aquecem, as espécies rastreiam suas temperaturas preferidas movendo-se em direção aos polos. Embora o aquecimento no equador de 0,6 ℃ nos últimos 50 anos seja relativamente modesto em comparação com o aquecimento em latitudes mais altas, as espécies tropicais precisam se mover mais para permanecer em seu nicho térmico em comparação com as espécies em outros lugares.

À medida que o aquecimento dos oceanos se acelerou nas últimas décadas devido às mudanças climáticas, a dispersão ao redor do equador se aprofundou.

Previmos essa mudança há cinco anos usando uma abordagem de modelagem e agora temos evidências observacionais.

Para cada um dos 10 principais grupos de espécies que estudamos (incluindo peixes pelágicos, peixes de recife e moluscos) que vivem na água ou no fundo do mar, sua biodiversidade atingiu um platô ou diminuiu ligeiramente nas latitudes com temperaturas médias anuais da superfície do mar acima de 20 °C.

Hoje, a diversidade de espécies é maior no hemisfério norte em latitudes em torno de 30 °N (no sul da China e no México) e no sul em torno de 20 °S (no norte da Austrália e sul do Brasil).

Isso já aconteceu antes

Não devemos nos surpreender que a biodiversidade global tenha respondido tão rapidamente ao aquecimento global. Isso já aconteceu antes e com consequências dramáticas.

252 milhões de anos atrás…

No final do período geológico do Permiano, cerca de 252 milhões de anos atrás, as temperaturas globais aumentaram 10 °C em 30.000-60.000 anos como resultado das emissões de gases de efeito estufa das erupções vulcânicas na Sibéria.

Um estudo de 2020 dos fósseis daquela época mostra o pico acentuado da biodiversidade no equador achatado e espalhado. Durante esta gigantesca reorganização da biodiversidade global, 90 por cento de todas as espécies marinhas foram extintas.

125.000 anos atrás…

Um estudo de 2012 mostrou que, mais recentemente, durante o aquecimento acelerado de cerca de 125.000 anos atrás, houve um rápido movimento semelhante de corais de recife para longe dos trópicos, conforme documentado no registro fóssil. O resultado foi um padrão semelhante ao que descrevemos, embora não tenha havido extinção em massa associada.

Os autores do estudo sugeriram que seus resultados podem prenunciar os efeitos de nosso aquecimento global atual, alertando de forma ameaçadora que pode haver extinções em massa no futuro próximo, conforme as espécies se movem para as regiões subtropicais, onde podem ter dificuldades para competir e se adaptar.

Hoje…

Durante a última era glacial, que terminou há cerca de 15.000 anos, a diversidade de foraminíferos (um tipo de plâncton unicelular de concha dura) atingiu seu pico no equador e tem diminuído desde então. Isso é significativo, pois o plâncton é uma espécie-chave na cadeia alimentar.

Nosso estudo mostra que o declínio se acelerou nas últimas décadas devido às mudanças climáticas causada pelo homem.

As implicações profundas

A perda de espécies em ecossistemas tropicais significa que a resiliência ecológica às mudanças ambientais é reduzida, comprometendo potencialmente a persistência do ecossistema.

Em ecossistemas subtropicais, a diversidade de espécies está aumentando. Isso significa que haverá espécies invasoras, novas interações predador-presa e novas relações competitivas. Por exemplo, peixes tropicais que se mudam para o porto de Sydney competem com espécies temperadas por alimento e habitat.

Isso pode resultar no colapso do ecossistema – como foi visto na fronteira entre os períodos Permiano e Triássico – no qual as espécies se extinguem e os serviços ecossistêmicos (como suprimentos de alimentos) são alterados permanentemente.

As mudanças que descrevemos também terão implicações profundas para a subsistência humana. Por exemplo, muitas nações insulares tropicais dependem da receita das frotas de pesca do atum por meio da venda licenciada em suas águas territoriais. As espécies de atum altamente móveis tendem a se mover rapidamente em direção às regiões subtropicais, potencialmente além das águas soberanas de nações insulares.

Da mesma forma, muitas espécies de recife importantes para os pescadores artesanais – e a megafauna altamente móvel, como tubarões-baleia, raias manta e tartarugas marinhas que sustentam o turismo – também tendem a se mover em direção aos subtropicais.

A movimentação de peixes comerciais e artesanais e da megafauna marinha pode comprometer a capacidade das nações tropicais de cumprir as Metas de Desenvolvimento Sustentável relativas à fome zero e à vida marinha.

Podemos fazer alguma coisa?

Um caminho é traçado nos Acordos Climáticos de Paris e envolve a redução acentuada de nossas emissões. Outras oportunidades também estão surgindo que podem ajudar a proteger a biodiversidade e, com sorte, minimizar os piores impactos decorrentes do afastamento do equador.

Atualmente, 2,7 por cento do oceano são conservados em reservas totalmente ou altamente protegidas. Isso está bem aquém da meta de 10% até 2020 da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica.

Mas um grupo de 41 nações está pressionando para definir uma nova meta de proteger 30% do oceano até 2030.

Essa meta “30 por 30” pode proibir a mineração no fundo do mar e inibir a pesca em reservas que podem destruir habitats e liberar tanto dióxido de carbono quanto a aviação global. Essas medidas removeriam as pressões sobre a biodiversidade e promoveriam a resiliência ecológica.

Projetar reservas inteligentes para o clima poderia proteger ainda mais a biodiversidade de mudanças futuras. Por exemplo, as reservas para a vida marinha podem ser colocadas em refúgios onde o clima será estável no futuro previsível.

Agora temos evidências de que as mudanças climáticas estão impactando o padrão global mais conhecido e forte da ecologia. Não devemos atrasar ações para tentar mitigar isso.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.