Por Elizabeth Rayne
Publicado na SyFy
Um arco-íris pode ser uma oportunidade perfeita para uma foto no Instagram a fim de obter curtidas, mas não é todo dia que eles caem do céu.
Isso foi o que aconteceu na Costa Rica em 2019. O arco-íris que caiu do céu era na verdade um meteorito e, embora a maioria tenha queimado na atmosfera, este se quebrou em pedaços antes de cair nas cidades de La Palmera e Aguas Zarcas. Quando exposto à luz, o meteorito que parece carvão exibe um brilho multicrômico brilhante que se assemelha a uma mancha de óleo. Agora, os cientistas da NASA que estudam este meteorito descobriram uma composição química que pode ser uma oportunidade para a compreensão das origens do Sistema Solar e como a própria vida se originou a Terra.
“Em nosso laboratório, nos especializamos na busca de aminoácidos em meteoritos. Alguns que encontramos são realmente raros na Terra. A isovalina é um deles. Não é muito abundante na Terra, mas você pode encontrá-la em alguns microrganismos que a usariam em processos metabólico”, disse o químico da NASA José C. Aponte, cuja equipe de pesquisa analisou o meteorito sob um microscópio e publicou recentemente um estudo na Meteoritics & Planetary Science, ao SYFY WIRE.
Aguas Zarcas, como o meteorito – ou melhor, seus fragmentos – é agora chamado, é um condrito carbonáceo que perde em tamanho apenas para o meteorito Murchison da Austrália, que caiu em nossa atmosfera em 1969. Os condritos carbonáceos são remanescentes primitivos pesados de carbono do início do Sistema Solar. Eles são algumas das relíquias mais puras daquela época, feitas da poeira do que viria a ser nosso Sistema Solar e contêm aminoácidos e outros compostos orgânicos que são a matéria-prima da vida.
Junto aos aminoácidos extremamente raros descobertos no Murchison há vários anos, Aguas Zarcas poderia revelar ainda mais sobre o que aconteceu na evolução do Sistema Solar primitivo. Já foi descoberto que ele contém aminoácidos, que são o que você obtém quando quebra proteínas e DNA. A maioria dos condritos carbonáceos que estava flutuando pelo espaço no passado distante eventualmente ajudou a formar planetas, luas e asteroides. Eles também podem ter indo parar na Terra para trazer produtos orgânicos como aminoácidos. Algo se destaca nesses aminoácidos.
“A presença de aminoácidos em meteoritos não significa vida alienígena”, enfatizou Aponte, mas está aberto a especulações. “Tudo o que é vivo é feito de aminoácidos do tipo canhoto, embora os aminoácidos dos tipos destro e canhoto tenham as mesmas propriedades físico-químicas. Descobrimos que em meteoritos há um excesso de aminoácidos do tipo canhoto em comparação aos do tipo destro, e não sabemos por que isso acontece”.
É igualmente possível que, durante a formação do Sistema Solar, esses meteoritos tenham encapsulado aminoácidos, estando viajando com eles pelo espaço por bilhões de anos. Ninguém sabe. Análises aprofundadas do Aguas Zarcas já revelou que os aminoácidos existem em poucos lugares deste planeta. Um estudo ainda mais profundo pode até encontrar polímeros que conseguiram escapar de serem obliterados pela atmosfera quando Aguas Zarcas caiu na Terra.
“Os compostos orgânicos podem ocorrer e ocorrerão naturalmente por meio de diferentes processos químicos que não envolvem a vida”, disse Aponte. “Agora queremos nos concentrar no que realmente constitui uma bioassinatura”.
A única coisa mais primitiva do que Aguas Zarcas e Murchison poderia ser amostras de um asteroide que ainda está no espaço. Fragmentos de Aguas Zarcas poderiam ainda ter sido contaminados pela floresta tropical eles “pousaram”. É por isso que as amostras retornadas do asteroide Ryugu pela Hayabusa-2 no final do ano passado e o retorno de amostras do asteroide Bennu pelo OSIRIS-REx em 2023 é tão importante.
“A grande maravilha sobre o Aguas Zarcas é que ele será usado como uma base de comparação com as amostras das missões Hayabusa-2 e OSIRIS-REx”, disse Aponte, “especialmente pelo fato de haver tanto material disponível de Aguas Zarcas. É um meteorito realmente emocionante”.
Fragmentos de Aguas Zarcas se tornaram valiosos entre colecionadores. De acordo com a Science, “cerca de 30 colecionares da Rússia, Alemanha, Bélgica e Estados Unidos haviam estabelecido suas próprias estimativas para a trajetória da bola de fogo [Aguas Zarcas], que espalhou fragmentos por 6 quilômetros. A demanda cresceu. Os preços dispararam dos poucos dólares por grama que [o primeiro negociante Mike] Farmer havia oferecido inicialmente para US$50, até US$100 por grama (R$282 e R$564, respectivamente), ultrapassando o preço do ouro”.
Por enquanto, fiquem atento ao céu.