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Uma explosão de ar cósmica pode ter devastado uma vasta cultura nativa americana há 1.500 anos

Por David Nield
Publicado na ScienceAlert

Mais de 1.500 anos atrás, uma vasta cultura conhecida como a tradição Hopewell (ou cultura Hopewell) se estendia pelo que hoje é o leste dos Estados Unidos.

A causa do declínio da cultura tem sido debatida há muito tempo, com guerras e mudanças climáticas sendo duas das possibilidades, mas agora uma nova linha de investigação surgiu: detritos de um cometa próximo à Terra.

Pesquisadores que trabalham em 11 sítios arqueológicos diferentes da cultura Hopewell, cobrindo três estados, encontraram concentrações incomuns de irídio e platina em suas escavações – sinais indicadores de fragmentos de meteoritos. Enquanto isso, uma camada de carvão no sedimento sugere um intenso período de alto calor.

A hipótese é que os detritos de um cometa que passava podem ter caído perto das comunidades Hopewell de Ohio, causando uma explosão de ar que teria efeitos profundos e potencialmente devastadores no meio ambiente local.

Sinais de que as pessoas coletaram fragmentos de meteoritos e os incorporaram em suas joias e instrumentos, juntamente com relatos de uma calamidade no folclore local, sugerem que certamente houve algum evento significativo – um que os pesquisadores sugerem que pode ter contribuído para uma reviravolta significativa na esfera social.

Um ímã prendendo minúsculos micrometeoritos coletados das amostras de sedimentos. Crédito: Michael Miller.

Há outras pistas também: a cultura Hopewell construiu um monte em forma de cometa perto do epicentro da região da chuva de meteoritos, que hoje é chamada de Milford Earthworks. Além disso, um evento calamitoso na história ainda é falado hoje entre as tribos descendentes.

“A tribo Miami fala de uma serpente com chifres que voou pelo céu e jogou pedras na terra antes de cair no rio”, disse o antropólogo Kenneth Tankersley, da Universidade de Cincinnati, em Ohio (EUA). “Quando você vê um cometa passando pelo ar, parece uma grande cobra. Os Shawnee se referem a uma ‘pantera do céu’ que tinha o poder de derrubar florestas. Os Ottawa falam de um dia em que o Sol caiu do céu. E quando um cometa atinge a termosfera, ele teria explodido como uma bomba nuclear”.

Os micrometeoritos deixados para trás em tais eventos podem revelar uma assinatura química, dizem os pesquisadores.

“Eventos cósmicos como asteroides e explosões de cometas deixam para trás grandes quantidades de um elemento raro conhecido como platina”, disse Tankersley. “O problema é que a platina também ocorre em erupções vulcânicas. Portanto, também procuramos outro elemento raro encontrado em eventos não terrestres, como crateras de impacto de meteoritos: irídio. E encontramos um pico tanto de irídio quanto de platina”.

A equipe usou técnicas como microscopia eletrônica de varredura e espectrometria dispersiva de energia para identificar os elementos nos sedimentos coletados. Os fragmentos de meteoritos estavam de forma extraordinária altamente concentrados em comparação com outros locais e épocas.

Ao mesmo tempo, o material também foi datado por radiocarbono e datação tipológica. Os pesquisadores estimam que o evento ocorreu entre 252 d.C. e 383 d.C. Registros históricos mostram que 69 cometas próximos da Terra foram documentados no mesmo período.

A equipe de pesquisa no local. Crédito: Larry Sandman.

A explosão do espaço teria desencadeado incêndios cobrindo cerca de 23.828 quilômetros quadrados, sugere este último estudo.

Agora, mais estudos estão planejados para ter uma ideia melhor de como a chuva de meteoritos pode ter impactado uma área tão ampla. A paisagem botânica da época pode ser analisada através da observação cuidadosa do pólen preso em sedimentos, por exemplo.

No entanto, os cientistas admitem que ainda há muitas perguntas sem resposta – olhar para trás através de 1.500 anos de história não é particularmente fácil. Ainda há muito para explorar nesses locais específicos durante esse período específico.

“É difícil saber exatamente o que aconteceu”, disse o paleoecologista David Lentz, da Universidade de Cincinnati. “Temos apenas alguns pontos de luz na escuridão. Mas temos este evento de alto calor que teria sido catastrófico para as pessoas naquela área e nas proximidades”.

A pesquisa foi publicada em Scientific Reports.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.