Pular para o conteúdo

Uma mutação deu a esses peixes um impulso de curiosidade

curiosidade dos peixes ciclideos

A curiosidade é uma característica intrigante. Pode ser perigosa, como aprendeu o lendário gato tarde demais, mas também é uma qualidade útil que pode abrir portas para oportunidades inestimáveis.

Leia também: Cérebro de pessoas solitárias funciona de maneira diferente

Um novo estudo ilustra que a curiosidade parece ser uma força fundamental por trás da biodiversidade no reino animal, inspirando comportamentos individuais que podem eventualmente levar à evolução de novas espécies. Se não fosse pela curiosidade, talvez nunca tivesse havido nenhum gato morto por isso.

curiosidade dos peixes ciclideos
Cyphotilapia gibberosa é um ciclídeo particularmente curioso do Lago Tanganica. (Universidade de Basileia, Adrian Indermaur)

 

O comportamento exploratório é um traço essencial para animais de todos os tipos, de mamíferos a aranhas, expondo indivíduos e populações a novos perigos e a oportunidades até então desconhecidas. A equipe internacional de pesquisadores acredita que também pode desempenhar um papel na especiação, embora os detalhes genéticos por trás dessas variações comportamentais adaptativas não sejam bem compreendidos.

A família dos peixes ciclídeos, famosa por sua extrema especiação, evoluiu para uma incrível variedade de espécies ao longo dos últimos 50 milhões de anos. Os muitos ciclídeos encontrados na África Oriental são de particular interesse científico, com cerca de 2.000 espécies evoluindo para explorar vários nichos ecológicos nos últimos 100.000 anos.

outros ciclideos com menos curiosidade
Indivíduos da espécie Cyprichromis coloratus apresentam um nível médio de curiosidade. (Universidade de Basileia, Adrian Indermaur)

 

No novo estudo, cientistas de diversas instituições da Europa usaram o boom de especiação da família dos ciclídeos como estudo de caso para esclarecer como o comportamento exploratório pode influenciar as adaptações dos peixes a vários nichos. Liderada pela bióloga evolucionista Carolin Sommer-Trembo, da Universidade de Basileia, a equipe passou meses gravando vídeos para documentar o comportamento de cerca de 700 ciclídeos capturados no Lago Tanganica.

O estudo não se concentra em gatos, mas em peixes – especificamente, 57 espécies diferentes de ciclídeos que vivem perto da margem sul do Lago Tanganica, na Zâmbia. Estes ciclídeos apresentam formas corporais, colorações e comportamentos alimentares altamente diversos, adaptações que ajudaram a reduzir a competição dentro da família, permitindo-lhes explorar novos nichos em vez de competirem por recursos limitados.

Os vídeos revelaram como cada peixe explorou seu novo ambiente em experimentos, incluindo quais partes visitaram em um período de 15 minutos. Após os experimentos, os peixes foram devolvidos aos seus habitats nativos. “No geral, foram observadas grandes diferenças no comportamento exploratório entre as espécies de ciclídeos, e essas diferenças também foram confirmadas em condições de laboratório”, diz Sommer-Trembo.

A análise dos dados mostrou uma forte correlação entre o comportamento exploratório de uma espécie e seu habitat e formato corporal. Por exemplo, as espécies de ciclídeos que vivem perto da costa tendem a ter corpos mais robustos e exibem mais curiosidade do que as espécies de águas abertas, que possuem corpos mais alongados. “Isso coloca o foco novamente no comportamento animal como força motriz por trás dos principais processos evolutivos”, diz Sommer-Trembo.

Para aprofundar a base genética dessas diferenças comportamentais, os pesquisadores desenvolveram uma nova técnica para analisar genomas e comparar dados entre espécies. Isso ajudou a identificar uma variante genética nos genomas dos ciclídeos que mostra uma forte correlação com o comportamento exploratório. As espécies que apresentam um “T” (para timina) neste local do seu DNA mostram mais curiosidade, enquanto aquelas com um “C” (para citosina) apresentam menos.

Usando a tecnologia de edição genética CRISPR-Cas9, os pesquisadores também provocaram mutações direcionadas na região específica do genoma dos peixes, resultando em mudanças no comportamento exploratório e num aparente aumento da curiosidade.

A versão humana desta mutação genética tem sido associada à esquizofrenia e aos transtornos bipolares, observam os pesquisadores. “Estamos interessados ​​em saber como os traços de personalidade podem afetar os mecanismos de biodiversidade no reino animal”, diz Sommer-Trembo. “Mas quem sabe: em última análise, também poderemos aprender algo sobre os fundamentos da nossa própria personalidade.”

Brendon Gonçalves

Brendon Gonçalves

Sou um nerd racionalista, e portanto, bastante curioso com o que a Ciência e a Filosofia nos ensinam sobre o Universo Natural... Como um autodidata e livre pensador responsável, busco sempre as melhores fontes de conhecimento, o ceticismo científico é meu guia em questões epistemológicas... Entusiasta da tecnologia e apreciador do gênero sci-fi na arte, considero que até mesmo as obras de ficção podem ser enriquecidas através das premissas e conhecimentos filosóficos, científicos e técnicos diversos... Vida Longa e Próspera!