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Veja como a explosão de estrelas forjou o cálcio nos nossos dentes e ossos

Por David Nield
Publicado na ScienceAlert

É presumido que até metade do cálcio no Universo – e isso inclui nossos ossos e dentes – provém de explosões estelares de supernovas, e os pesquisadores agora foram capazes de obter uma noção sem precedentes de como essas supernovas ultrarraras e ricas em cálcio chegam ao fim de suas vidas.

Essa observação nunca antes vista de como essas explosões estelares liberam tanto cálcio foi realizada usando raios-X no espaço profundo e imagens infravermelhas, e preenche algumas lacunas em nosso conhecimento científico sobre o processo.

Reunindo contribuições de 67 autores em 15 países, o estudo resultante sugere que as supernovas ricas em cálcio começam como estrelas compactas que rapidamente perdem massa no final de suas vidas, liberando uma camada externa de gás com a qual os materiais explosivos colidem.

Em amarelo: materiais ricos em cálcio. Em azul: região emitindo raios-X. Créditos: Aaron M. Geller / Northwestern University.

“Esses eventos são tão raros que nunca soubemos o que produziu supernovas ricas em cálcio”, disse o astrofísico Wynn Jacobson-Galan, pesquisador da Universidade do Noroeste, dos Estados Unidos.

“Observando o que essa estrela fez em seu último mês antes de atingir seu fim crítico e violento, espiamos um lugar antes inexplorado, abrindo novos caminhos de estudo na ciência dos eventos astronômicos transitórios”.

A supernova em questão, SN 2019ehk, foi descoberta pela primeira vez pelo astrônomo amador Joel Shepherd na galáxia espiral Messier 100 (M100), a cerca de 55 milhões de anos-luz de distância da Terra. Logo após a descoberta, muitos dos principais telescópios da Terra também a captaram – com eventos transitórios como esse, a velocidade para a observação é crucial.

O que os astrônomos não estavam esperando era a luminosidade da luz de raios-X que o SN 2019ehk estava emitindo. Os cientistas rapidamente perceberam que estavam observando uma enxurrada de raios-X de alta energia fluindo da estrela e atingindo a camada externa de gás, fornecendo pistas importantes para os materiais que estava lançando e quanto do material havia.

As análise da estrela no final da vida ajudaram os cientistas a descobrir o que estava acontecendo: as reações entre os materiais expelidos e o anel externo de gás estavam produzindo temperaturas intensamente quentes e altas pressões, levando a uma reação nuclear produtora de cálcio à medida que a estrela tentava se livrar do calor e energia o mais rápido possível.

“A maioria das estrelas massivas cria pequenas quantidades de cálcio durante a vida útil, mas eventos como o SN 2019ehk parecem ser responsáveis ​​por produzir grandes quantidades de cálcio e, no processo de explosão, dispersam-no pelo espaço interestelar nas galáxias”, disse o astrônomo Régis Cartier, pesquisador do National Optical-Infrared Astronomy Research Laboratory (NOIRLab) nos EUA.

“Em última análise, esse cálcio faz parte da formação de sistemas planetários e dos nossos corpos celestes – no caso da nossa Terra!”

Pelo fato dessas estrelas serem tão importantes na produção de cálcio, os cientistas têm demonstrado tanto interesse em vê-las – algo que se mostrou difícil (até o Hubble perdeu a oportunidade de ver a SN 2019ehk). A explosão abordada no novo estudo é responsável pela maior quantidade de cálcio já vista emitida em um único evento astrofísico observado.

Ser capaz de ver o funcionamento interno desse tipo de supernova abrirá novas áreas de pesquisa e nos dará uma ideia melhor de como o cálcio em nossos ossos e dentes – e em qualquer outro lugar do Universo – surgiu.

É também um ótimo exemplo da comunidade científica internacional trabalhando em conjunto para capturar e registrar algo de grande importância. Apenas 10 horas após a explosão brilhante inicial ter sido vista no céu por Joel Shepherd, alguns dos melhores telescópios que temos estavam prontos para registrar o que aconteceu a seguir.

“Antes desse evento, tínhamos informações indiretas sobre o que as supernovas ricas em cálcio poderiam ou não poderiam ser”, disse a astrofísica Raffaella Margutti, pesquisadora da Universidade do Noroeste. “Agora, podemos descartar com confiança várias possibilidades”.

A pesquisa foi publicada no The Astrophysical Journal.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.