Por Robert Grey
Publicado na Scientific American
Duas grandes ideias presentes em discussões sobre a busca por vida inteligente extraterrestre são a Equação de Drake e o Paradoxo de Fermi.
A Equação de Drake estima em nossa galáxia o número de civilizações que emitiriam sinais possíveis de serem detectados por nós, ou seja, civilizações técnicas e portanto inteligentes.
Já o Paradoxo de Fermi afirma que se a vida alienígena inteligente é abundante, então nós deveríamos detectá-la inevitavelmente, já que provavelmente eles teriam colonizado a galáxia e sendo assim seus sinais seriam emitidos de todos os lados. E desdobrando: se até hoje nós não captamos nenhum sinal deles, logo a busca é inútil.
A Equação de Drake é perfeitamente plausível: ela foi criada pelo astrônomo e pioneiro na busca por inteligência alienígena Frank Drake.
O paradoxo de Fermi, no entanto, é um mito. É atribuído ao físico Enrico Fermi, mas Fermi nunca fez tal afirmação.
O interesse em explicar o porquê do tal paradoxo de Fermi ser um equívoco, vem do fato deste enunciado inibir a busca por ETs: Fermi foi citado, por exemplo, pelo senador William Proxmire como uma das razões para matar o programa SETI da NASA em 1981. O programa chegou a ser retomado por insistência de Carl Sagan, mas foi extinto novamente em 1993 pelo senador Richard Bryan. Desde então, não há pesquisas neste sentido nos EUA que recebam fundos do governo, mesmo após milhares de novos planetas terem sidos descobertos em torno de outras estrelas além do nosso Sol.
Enrico Fermi foi um importante físico italiano, que inclusive construiu o primeiro reator nuclear da história, tendo sido laureado com o premio Nobel em 1938. Fermi nunca publicou uma palavra sobre o assunto Extraterrestres.
Sabemos alguma coisa sobre seu ponto de vista a respeito de extraterrestres graças ao físico Eric Jones ter registrado algumas memórias das pessoas reunidas num certo almoço em 1950 em Los Álamos onde o chamado paradoxo de Fermi ganhou suas raízes.
As notas diziam que os presentes conversavam sobre uma charge do New Yorker, que mostrava discos voadores e alegres alienígenas carregando latas de lixo roubadas das ruas de Nova York, quando Fermi perguntou: “Onde está todo mundo?”
Claro que Fermi se referia ao fato de que nós ainda não havíamos visto quaisquer naves alienígenas, e a conversa virou-se para a viabilidade de viagens interestelares. “Fermi passou dali a concluir que a razão de não termos sido visitados, poderia ser porque o voo interestelar é impossível, ou se for possível, talvez então não valesse o esforço, ou que civilizações tecnológicas não durem tempo suficiente para que isso aconteça”. N.T. Drake viria a formular sua famosa equação somente 11 anos depois desta conversa.
Todos à mesa sabiam que Fermi estava questionando a viabilidade da viagem interestelar. Ninguém ali cogitou que ele estivesse questionando a existência de civilizações extraterrestres.
Assim sendo, o chamado Paradoxo de Fermi, na verdade, deturpa a opinião de Enrico Fermi.
O ceticismo de Fermi sobre viagens interestelares não é surpreendente, já que em 1950 foguetes ainda não haviam atingido o espaço orbital, e muito menos chegado a outro planeta ou estrela.
Mas se Fermi não foi a fonte dessa ideia pessimista, então de onde ela vem?
A noção de que “… eles não estão aqui, portanto, eles não existem” apareceu pela primeira vez na imprensa em 1975, quando o astrônomo Michael Hart afirmou que se os alienígenas inteligentes existissem, eles inevitavelmente colonizariam a Via Láctea. E sendo assim estariam em todo lugar, e inclusive aqui. Uma vez que eles não estão, Hart concluiu que os humanos são provavelmente a única vida inteligente em nossa galáxia, de modo que buscar vida inteligente em outros lugares é “provavelmente um desperdício de tempo e dinheiro”.
Seu argumento foi contestado por muitas razões:
1. Talvez o custo de uma viagem interestelar não seja viável;
2. Talvez ninguém até agora optou por colonizar a galáxia;
3. Talvez tenhamos recebido visitas há muito tempo e as provas estão enterradas com os dinossauros.
A ideia tornou-se popularmente entrincheirada no pensamento sobre civilizações alienígenas.
A confusão veio em 1977, quando o físico David G. Stephenson usou a frase “Paradoxo de Fermi” em um artigo citando a ideia de Hart como uma possível resposta à pergunta de Fermi.
Somado a isso, em 1980, o físico Frank Tipler baseado nos argumentos de Hart, abordou uma questão óbvia: Onde alguém obteria os recursos necessários para colonizar milhares de milhões de estrelas?
Ele sugeriu a seguinte resposta:”Um construtor universal auto-replicante com inteligência comparável ao nível humano que enviaria réplicas para as estrelas vizinhas, que por sua vez construiriam cópias de si mesmos usando materiais locais, e assim por diante até que a galáxia estivesse inteiramente tomada”.
Tipler argumentou que ausência de certos aparelhos na Terra provava que a nossa é a única inteligência em todo o Universo.
Hart e Tipler claramente merecem o crédito pela ideia do chamado paradoxo de Fermi. Ao longo dos anos, no entanto, a ideia deles tem sido confundida com a pergunta original de Fermi.
O paradoxo de Fermi, portanto, deveria ser chamado com mais precisão de Argumento Hart-Tipler contra a existência de extraterrestres tecnológicos, o que não soa tão autoritário como o nome consagrado, e que parece mais justo para todos.
Quanto ao paradoxo, não há nenhum, mesmo em argumentos de Tipler e Hart. Não existe contradição lógica entre as declarações “ETs podem existir” e a declaração “ETs não estão aqui”, mesmo porque ninguém sabe se viagens entre as estrelas é possível.
O argumento de Hart-Tipler, camuflado na autoridade do nome de Enrico Fermi, fez de muitas pessoas pessimistas sobre as chances de sucesso do SETI. Mas a sugestão de que não devemos buscar vida inteligente em outros lugares, apenas porque não os vemos aqui é simplesmente tola.
É verdade que existe um elevado pessimismo sobre o assunto. O mais notável fundo privado para o avanço do SETI, de Yuri Milner, prevê US$100 milhões para os próximos dez anos. Mesmo tanto dinheiro parece pouco diante da missão de buscar dentre milhões de estrelas, sinais que não sabemos ao menos que frequências teriam, e por isso serão necessários ainda mais recursos.