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Respostas à Steven Pinker, David Gorski e Steven Novella

Este texto traduz a tréplica de John Horgan às críticas que recebeu de Steven Novella e Steven Pinker após seu artigo que criticou o movimento cético internacional. Recomendo a leitura dos textos anteriores para se situar no debate.

Você também pode encontrar as quatro traduções do debate Horgan, Novella e Pinker neste único pdf que fiz com todas as referências para citação.

Respostas à Steven Pinker, David Gorski e Steven Novella

Tradução por Thomas Victor Conti a partir do texto de John Horgan, 23 de Maio de 2016, Scientific American Blog, URL: http://goo.gl/vu2VOD

Para mais reações a este ensaio, e minhas tréplicas, por favor leiam a sequência dos meus posts aqui e aqui. Estou inserindo esta “Atualização” aqui porque estou reagindo a reações especialmente importantes e quero maximizar a leitura.

Minha Resposta a Steven Pinker

Steve Pinker destrói a avisão de John Horgan sobre a guerra”. Este é o quarto ataque lançado contra me do blog de Jerry Coyne Why Evolution is True (Por Que a Evolução é Verdade). Tenho grande respeito por Pinker. Em uma resenha para a Slate, Eu chamei The Better Angels of Our Nature, que documenta declínios históricos na guerra e outras formas de violência, um “feito monumental” que “deveria tornar muito mais difícil para os pessimistas se apegarem à sua visão sombria do futuro.” Mas eu também critiquei Pinker por abraçar uma perspectiva Hobbesiana, na qual a civilização, especialmente corporificada em Estados ocidentais pós-Iluministas, está nos ajudando a superar nossa natureza selvagem. Esse compromisso ideológico leva Pinker a superestimar a violência de humanos pré-históricos e a minimizar a violência perpetrada por Estados modernos, notavelmente os EUA.

Mais um ponto: Pinker diz que eu “apoiei um non sequitur” que se a guerra é inata ela também deve ser inevitável. Eu não “apoio” essa visão fatalista, e eu sei que Pinker também não o faz. Mas muitas outras pessoas são fatalistas da raiz-profunda, dos meus alunos até o Barack Obama, que ao aceitar o Prêmio Nobel da Paz (!) disse quer a guerra “apareceu com o primeiro homem” e “nós não erradicaremos o conflito violento no nosso tempo de vida”. É por isso que fico tão desapontado que Pinker e outros cientistas proeminentes continuam a propagar a teoria da raiz profunda da guerra a despeito da sua falta de apoio empírico. (Para uma critica detalhada do trabalho de Pinker, ver isso, isso e isso. Também, se você estiver curioso sobre o caso Napoleon Chagnon ao qual Pinker alude, veja isso.)

Minha (mais recente) Resposta à David Gorski e Steven Novella

Como David Gorski continua a me bater online, eu olhei com um pouco mais de cuidado ao que ele e seu colega físico-cético Steven Novella escreveram. Como os posts recentes no blog deles Science-Based Medicine deles deixa claro, seu alvo primário é a medicina alternativa, que eles atacam agressivamente e com razão.

O problema é que eles não são igualmente agressivos em criticar a medicina mainstream, da qual eles tendem a ser protetores. Gorski e Novella sem dúvida se preocupam que o reconhecimento das falhas da medicina mainstream dará auxílio e conforto aos charlatões, mas eles acabam aderindo a um duplo-padrão que debilita a credibilidade deles.

Esse duplo padrão aparece quando Gorski e Novella desconsideram evidências que as drogas psiquiátricas podem estar fazendo mais mal do que bem, e quando Gorski minimiza um estudo recente sobre mortes causadas por erros médicos. Similarmente, quando Gorski, um cirurgião do câncer de mama, discute mamogramas, ele sempre acaba afirmando o valor deles, não importa quão limitado.

Céticos buscando avaliações mais objetivas da medicina deveriam dar uma olhada na inestimável Cochrane Collaboration, que consiste de 37.000 especialistas médicos dedicados a produzir (de acordo com o site) “informação de saúde crível e acessível livre de patrocínios comerciais e outros conflitos de interesse”.

Peter Gotzsche, um físico e pesquisador médico que lidera o braço Nórdico da Cochran Collaboration, concluiu que tanto mamogramas quanto antidepressivos podem fazer mais mal do que bem. Gotzsche é um verdadeiro cético. Ele não está necessariamente certo, mas eu acredito no seu julgamento mais do que no de Gorski e Novella.

Considerações Finais sobre o Debate entre Horgan, Novella e Pinker

Janeiro 2017, por Thomas Victor Conti

No balanço geral do debate entre Horgan, Novella e Pinker, acredito que a mensagem mais marcante tenha sido a de Novella: “Ele [Horgan] está explicitamente adereçando aos céticos e nos dizendo o que fazer. Quando você faz algo assim, com toda a sua presunção, certifique-se de saber sobre o que você está falando”. Tanto no seu primeiro texto quanto nos posteriores, Horgan não demonstrou que seu conhecimento do trabalho dos autores do ceticismo científico ia muito além do superficial. Como resultado, é difícil não ler seus argumentos como um grande espantalho. A prática de citar quase só textos de blog que ele mesmo escreveu certamente também não corroborou para marcar essa falha.

É difícil dar muito crédito às críticas de Horgan ao movimento cético sem antes acreditar que realmente não vale a pena criticarmos ou tocarmos em determinados problemas enquanto problemas maiores ainda não estiverem solucionados. Só assim a crítica ao movimento anti-vacinação pode ser vista como algo menos digno de nota – afinal a paz mundial ainda não foi alcançada (embora nesse caso seria possível até afirmar que o abandono da vacinação causaria muito mais mortes do que uma nova guerra da mesma escala das que temos atualmente).

De toda forma, Horgan não se dá ao trabalho de representar fidedignamente nem os autores que critica, nem aqueles que mobiliza a seu favor para criticar Novella e Pinker. A citação que ele faz do trabalho de Peter Gøtzsche sobre antidepressivos é um ótimo exemplo. Horgan apenas diz que, segundo Gøtzsche, os antidepressivos fazem “mais mal do que bem.” No entanto, essa não é a conclusão do autor. Segundo o próprio, ele defende que “Deveríamos usar [os antidepressivos] muito menos, por períodos mais curtos de tempo, e sempre com um plano para descontinuar o uso, para prevenir as pessoas de serem medicadas pelo resto da vida” (Gøtzsche, 2014). Isso não é um pedido pelo fim de qualquer uso dos antidepressivos, como Horgan faz parecer, mas sim um pedido de prudência e administração cuidadosa, planejada.

Esses erros são muito comuns tanto no jornalismo científico quanto na divulgação científica mais massificada. Contudo, o ceticismo científico busca justamente apontar sempre as nuances dos problemas, para considerarmos os argumentos e os achados científicos pelo que eles realmente afirmam. O resultado quase sempre são títulos menos sensacionalistas, argumentos menos dramáticos ou românticos, finais que abandonam o entusiasmo apressado pela moderação do razoável. Afirmações extraordinárias precisam de evidências extraordinárias, e ele não as mostrou. Ou seja, Horgan falhou em ser “Cético com os Céticos”.


Sequência dos textos:

Você também pode encontrar as quatro traduções do debate Horgan, Novella e Pinker neste único pdf que fiz com todas as referências para citação.

Parte 1: John Horgan, “Caros “Céticos”, Critiquem menos a Homeopatia e o Pé Grande, e mais os mamogramas e a guerra”

Parte 2: Steven Novella, “John Horgan é “Cético com os Céticos””

Parte 3: Steven Pinker, “Steve Pinker destrói a visão de John Horgan sobre a Guerra”

Parte 4: John Horgan, “Respostas à Steven Pinker, David Gorski e Steven Novella”

 

Thomas Conti

Thomas Conti

28 anos, mestre em economia, professor assistente no Insper, docente na Especialização em Direito e Economia (Law & Economics) da Unicamp, consultor, pesquisador, programador em R e doutorando em economia pela Unicamp. Faço hora extra como divulgador científico e defendendo políticas públicas baseadas em evidências.