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Pássaros em pinturas egípcias antigas mostram que artistas podem ter distorcido a verdade

Traduzido por Julio Batista
Original de David Nield para o ScienceAlert

Ao longo dos tempos, os artistas se voltaram para a natureza em busca de inspiração. Os cientistas costumam usar essas representações de plantas e animais para obter informações sobre os ecossistemas como eram no passado.

Isso, é claro, assumindo que a intenção do artista é capturar o cenário fielmente. Uma nova análise de uma série de pinturas egípcias do século 14 a.C. questiona se alguns artistas podem ter se entregado a uma pequena licença artística atemporal.

Pesquisadores do Museu de História Natural da Universidade de Oxford e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, argumentam que os pombos-das-rochas retratados na obra de arte não seriam nativos dos pântanos de plantas de papiro retratados nas pinturas. Esta e outras peculiaridades nas pinturas enfatizam a necessidade de ser crítico ao ver as obras de arte históricas como registros da biologia.

A arte em questão faz parte de uma série descoberta no sítio arqueológico de Amarna, na margem leste do Nilo, na atual Minia. As escavações realizadas em 1924 revelaram um palácio com vários quartos e salas ricamente decorados que incluem numerosos painéis de gesso ilustrados com cenas naturais em detalhes impressionantes.

Uma seção da arte analisada. (Créditos: Antiquity)

“Desde então, eles passaram a ser considerados obras-primas da arte egípcia antiga”, escreveram os pesquisadores em seu paper publicado. “Em destaque nestas pinturas estão algumas das imagens mais habilmente e fielmente retratadas e naturalistas de pássaros conhecidos do Egito Dinástico.”

Aqui, a equipe analisou as obras de arte no que é conhecido como Sala Verde, um local provavelmente usado para descanso e relaxamento, se não socialização ocasional e reprodução de música.

Algumas aves, incluindo pombos e martins-pescadores, já haviam sido identificadas, mas os pesquisadores conseguiram expandir o catálogo de animais conhecidos usando cópias de alta qualidade das obras de arte e registros ornitológicos modernos. Picanços e pastorinhas estavam entre as novas aves identificadas nesta análise.

O estudo também observa que as aves migratórias foram marcadas com um triângulo, talvez uma pista para os antigos observadores de pássaros e sugerindo que a obra de arte retrata uma estação específica. Os pesquisadores esperam que suas descobertas provoquem mais discussões sobre a arte.

“A arte da Sala Verde não recebeu tanta atenção quanto você esperaria”, disse o arqueólogo Christopher Stimpson, do Museu de História Natural da Universidade de Oxford. “Isso pode ter acontecido porque os painéis de gesso originais não sobreviveram bem ao tempo.”

Os pesquisadores argumentam que a ambiguidade da licença artística pode introduzir cautela na interpretação. É possível que as aves tenham sido atraídas para a área pela atividade humana, como acontece hoje nas áreas urbanas. No entanto, não há pessoas reais na cena, então pode ser que os pombos-das-rochas tenham sido introduzidos para fazer a pintura parecer mais selvagem e indomável.

“Embora a obra de arte da Sala Verde seja um exemplo de execução naturalista, ela não deve ser considerada um tratado ornitológico de fato”, observaram os autores.

Outras pesquisas sugeriram que as obras de arte do edifício como um todo representam uma tentativa, juntamente com a arquitetura das estruturas, de mesclar os ambientes interno e externo e estabelecer uma conexão com a natureza.

Os elementos espirituais das pinturas também não podem ser descartados, considerando como os pássaros estavam intimamente associados à cultura e à religião no antigo Egito. Acima de tudo, porém, parece que a obra de arte foi projetada para encorajar a paz e o descanso.

“Na Sala Verde, a atmosfera provavelmente foi aprimorada pelas visões da natureza”, disse Stimpson. “Os efeitos calmantes do mundo natural eram tão importantes naquela época quanto são mais do que nunca hoje.”

A pesquisa foi publicada na revista Antiquity.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.