Por Robert Todd Carroll
Publicado na The Skeptic’s Dictionary
Mas por que eu o fiz? Eu confesso que eu sou um esquerdista ousado que nunca entendeu como a desconstrução ajudou a classe trabalhadora. E eu sou, também, um velho cientista indigesto que acredita, ingenuamente, que há um mundo externo, ondes habitam as verdades objetivas sobre o mundo. Meu trabalho é descobrir algumas delas.
– Alan Sokal
Na edição de Verão/Outono de 1996 (página 217-252), o jornal pós-moderno Social Text publicou um artigo de Alan Sokal, professor de Física da Universidade de Nova Iorque, intitulado de Transgredindo as Fronteiras: Rumo a uma Hermenêutica Transformativa da Gravidade Quântica. O artigo era um hoax criado, de acordo com Sokal, para ver se realmente “um jornal bastante renomado de estudos culturais publicaria um artigo sem sentido algum apenas se a sua introdução soasse como boa, testando, também, os preconceitos ideológicos dos editores”. E isso aconteceu!
Sokal afirma que se os editores fossem competentes escrúpulo e intelectualmente, teriam reconhecido logo no primeiro parágrafo que a tese era, na verdade, uma paródia. O físico disse que ele foi “convencido de que havia um declínio aparente nos graus de rigor científico em certos setores de ciências humanas acadêmicas nos Estados Unidos”. O hoax foi a sua forma de chamar atenção para isso.
Em seu artigo, Sokal ataca “o dogma imposto pela longa hegemonia pós-iluminista sobre o panorama intelectual ocidental” que clama sobre um mundo externo, governado por leis da natureza, mas que é impossível de entender pelo uso do método científico. Ele também alega que a “‘realidade’ física… é um construto social e linguístico”. Além de tudo isso, veja mais algumas coisas, nas palavras do mesmo:
“Através deste artigo, emprego conceitos matemáticos e científicos de maneiras que poucos cientistas e matemáticos poderiam levar a sério. Por exemplo, eu sugiro que o “campo morfogenético” – uma ideia bizarra da Nova Era que surgiu com Rupert Sheldrake – constitui uma vanguarda para a teoria da gravidade quântica. Essa conexão é invenção pura, mesmo que Sheldrake não faça tais alegações. Eu afirmo que as especulações psicanalíticas de Lacan foram confirmadas por um trabalho recente no campo da teoria quântica. Até mesmo leitores leigos reconheceriam que o que eu falei não faz sentido algum. Em suma, eu escrevi intencionalmente esse artigo de forma que qualquer físico ou matemático competente iria perceber que era besteira. Evidentemente, os editores do Social Text se sentiram confortáveis pela publicação de um artigo de física quântica sem consultar ninguém que conhecesse do assunto.”
Não é surpresa que uma revista da Nova Era tenha uma edição tão fraca, onde alegações absurdas e infundadas sobre “energias” paranormais são validadas pela mecânica quântica como comuns. Sokal acha que devamos procurar, talvez, um jornal de prestígio editado por acadêmicos com destaque na área de humanas. Mas por que escolher esse em particular?
Sokal escolheu o Social Text por razões políticas. Ambos são da esquerda, mas Sokal considera que a Nova Esquerda seja a culpada pelo relativismo epistemológico. Ele parece particularmente irritado com o fato da propagação de que a realidade seja um construto social (assim como todos nós que participamos do Universo Racionalista). Ainda, a Nova Esquerda criou uma “subcultura acadêmica auto-perpetuante que tipicamente ignora críticas racionais de fora”.
Então, Sokal quis aparentemente criticar o “relativismo epistemológico” e o “construtivismo social” da Nova Esquerda no próprio jornal deles, mas achou que a única maneira de fazer isso foi fingindo partilhar de suas ideias.
Muitos apontaram implicações profundas do hoax. Toda vez que um artigo houver de ser publicado em alguma revista, ele deve ser revisado por especialistas. Fontes e referências também devem ser checadas.
Acima de tudo, no entanto, o hoax de Sokal demonstra como estamos dispostos a sermos enganados por assuntos que acreditamos firmemente. Temos mais tendência de sermos críticos em relação a artigos que atacam a nossa posição, mas sucumbimos àqueles que a apoiam. Há um termo específico para isso, viés de confirmação, e atinge tanto os cientistas sociais e de humanidades quanto os de exatas e da natureza.