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Doping, antidoping e a prática esportiva

Não é de hoje que o ser humano busca melhorar seu desempenho físico e mental para realizar as mais variadas atividades. Seja no estudo, no trabalho, em qualquer tarefa que demanda esforço, concentração aumentada e respostas rápidas. A prática esportiva é um exemplo de atividade humana que exige alto rendimento, quando se trata de competições entre atletas de nível profissional.

Para obter este nível de desempenho, competidores realizam treinos intensos, e vez ou outra, buscam meios de incrementar (boost) sua competência. E para isso, recorrem a meios farmacológicos, com o intuito de promover aumento nas funções fisiológicas que envolvem rapidez, destreza, domínio dos movimentos e precisão.

Entretanto, o uso de substâncias químicas que incrementam o desempenho é considerado um tipo de vantagem desleal, levando atletas a ganharem competições de modo artificial. Existem órgãos, nacionais e internacionais, responsáveis por fiscalizar, julgar e avaliar casos em que há o uso de substâncias químicas que promovam o doping.

A BUSCA PELO FAIR PLAY

O conceito de doping, ou dopagem, abrange essa busca: aumentar o desempenho físico e mental para que se consiga estar mais competitivo, mais focado nas metas e nas vitórias. O antidoping é a prática que visa investigar e coibir a dopagem, sendo regulada por órgãos e comitês esportivos mundo afora.

Mundialmente existe a WADA (World Anti-Doping Agency), que faz o controle deste tipo de prática proibida. A ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem) é um exemplo de órgão nacional que segue os regulamentos da WADA e orienta os atletas brasileiros, juntamente com o COB (Comitê Olímpico Brasileiro). Confira aqui a lista atualizada de 2016 das substâncias consideradas proibidas no esporte, derivada do Código Mundial Antidopagem.

Veja aqui o posicionamento do COB a respeito do antidoping.

A listagem inclui diversas substâncias de classes farmacológicas diferentes, tais como:

• Álcool etílico (em esportes como o tiro com arco e os que envolvem automobilismo ou navegação);

• Maconha e derivados canabinoides, ou mesmo análogos sintéticos;

• Narcóticos e derivados opioides, tais como anestésicos e analgésicos;

• Diversos estimulantes, como a cocaína, a efedrina, os anfetamínicos e moduladores do apetite;

• Betabloqueadores: como o propranolol e o atenolol, que diminuem os tremores e a taquicardia sentidos nos momentos de tensão emocional ou de desequilíbrio físico (principalmente nos esportes que envolvem tiro e tiro com arco, além de outras que exigem precisão do competidor);

• Diuréticos: como a indapamida, a furosemida e a hidroclorotiazida, que ajudam a mascarar a presença de substâncias nos exames de urina, portanto chamadas de mascarantes;

• Antiestrogênicos: como o clomifeno, que diminui a ação dos hormônios estrogênicos e podem levar a um aumento do desempenho androgênico;

• Esteroides anabólico-androgênicos (EAAs), este que receberá destaque a partir de agora.

PROBLEMAS SOCIAIS E DE SAÚDE PÚBLICA

O uso de EAAs era inicialmente direcionado para tratamentos endócrinos envolvendo a deficiência de testosterona. A indústria farmacêutica desenvolveu análogos sintéticos da testosterona, que ajudam a compensar os níveis hormonais em indivíduos com este tipo de déficit.

Fora do âmbito clínico, o uso de EAAs se estendeu para a população em geral, sobretudo o público que frequenta academias e dentre os adeptos da prática do bodybuilding. A procura por estas substâncias está relacionada a um considerável aumento do desempenho muscular e cardiovascular, pois os esteroides promovem um incremento no anabolismo em um curto espaço de tempo.

Monstro

Além da função anabólica, o metabolismo dos esteroides pode levar a problemas clínicos. Uma preocupação é o surgimento de características masculinizantes nas mulheres, como calvície, engrossamento da voz, surgimento de pelos com padrão tipicamente masculino (rosto, região peitoral e barriga, por exemplo) e aumento irreversível do tamanho do clitóris. Ou mesmo um aumento dos caracteres sexuais secundários nos homens, envolvendo também mudanças comportamentais significativas em ambos os sexos.

A violência decorrente do uso dessas substâncias pode ser um grande problema social, pois a agressividade é naturalmente associada ao metabolismo da testosterona e seus derivados. A prevalência do consumo deste tipo de substância se torna cada vez mais algo preocupante dentre adolescentes e jovens adultos.

Veja aqui uma matéria produzida pelo CFF (Conselho Federal de Farmácia) sobre o uso de anabolizantes.

Cabe ressaltar que a administração de EAAs é injetável, o que pode levar a complicações decorrentes do mau uso e do descarte indevido de seringas e agulhas, ou mesmo do seu compartilhamento, o que pode levar à transmissão de doenças infectocontagiosas.

Leia os links indicados no texto.

Referências complementares:

DIEHL, A.; QUEVEDO E SILVA, S. Anabolizantes. In: DIEHL, A. (et al). Dependência Química: Prevenção, Tratamento e Políticas Públicas. Porto Alegre: Artmed, 2011.

DONOVAN, D. M.; MARLATT G. A. Avaliação dos comportamentos dependentes. São Paulo: Roca, 2009.

PADILHA, M. C.; AQUINO NETO, F. R. Complementos Nutricionais, Anabolizantes e o Controle de Dopagem no Esporte. In: SEIBEL, S. D. Dependência de Drogas. 2.ed. São Paulo: Atheneu, 2010.

SILVA, P. R. P.; DANIELSKI, R.; CZEPIELEWSKI, M. A. Esteroides anabolizantes no esporte. Rev Bras Med Esporte, v.8, n.6, 2002, pp. 235-243.

Pedro H. Costa

Pedro H. Costa

Bacharel em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Atuo desde 2012 no Centro de Estudos e Pesquisas sobre Álcool e outras Drogas, pela mesma instituição. Interessado em saúde, educação, ciência e filosofia. Faça uma pergunta: ask.fm/phcs91