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Encontramos partes profundas do mar onde a Última Era do Gelo nunca realmente terminou

Traduzido por Julio Batista
Original de David Nield para o ScienceAlert

Algumas das partes mais profundas do Mar Negro ainda estão respondendo às mudanças climáticas provocadas pela última era do gelo, descobriram cientistas – um período que terminou oficialmente há quase 12.000 anos.

Uma análise dos depósitos de hidrato de gás – neste caso, metano preso por moléculas de água, em uma substância sólida que parece gelo – revelou essa resposta lenta em uma área noroeste do Mar Negro conhecida como leque do Danúbio.

Juntamente com medições de temperatura e outros dados, os núcleos de perfuração dos depósitos de hidrato de gás revelam algo bastante surpreendente: os níveis liberados de gás metano no fundo do mar ainda não se adaptaram às condições mais quentes que já prevaleciam na superfície por milhares de anos.

“Isso mostra que o sistema de hidrato de gás no leque do Danúbio nas profundezas do mar ainda está respondendo às mudanças climáticas iniciadas no final do último máximo glacial”, escrevem os pesquisadores em seu paper.

Examinando núcleos de perfuração. (Créditos: Christian Rohleder)

No centro das descobertas estão as tentativas dos cientistas de determinar a base da zona de estabilidade do hidrato de gás (GHSZ) – o ponto mais baixo no qual os hidratos de gás se formam naturalmente devido à temperatura, pressão e alguns outros fatores. Acima e abaixo dessa zona, você obterá gás metano “livre”, não preso em hidratos.

Para encontrar a base desta zona, os pesquisadores normalmente recorrem a uma medida de reflexão sísmica do sedimento conhecida como refletor de simulação de fundo. No entanto, trabalhos anteriores descobriram que nesta parte do Mar Negro, há uma discrepância de profundidade curiosa entre o refletor de simulação de fundo e a base da zona de estabilidade do hidrato de gás. 

Ao perfurar até o fundo do mar e fazer medições de temperatura, os pesquisadores concluíram agora que a zona de estabilidade do hidrato de gás se adaptou às condições mais quentes nos últimos milênios – conforme indicado por um aumento para um nível mais alto – mas o gás metano livre e o associado refletor de simulação de fundo ainda está tentando recuperar o atraso.

“Do nosso ponto de vista, o limite de estabilidade hidrato de gás já se aproximou das condições mais quentes na subsuperfície, mas o gás metano livre, que sempre é encontrado nesta borda inferior, ainda não conseguiu subir com ele”, disse o geofísico Michael Riedel, do Centro Helmholtz de Pesquisa Oceânica – GEOMAR na Alemanha.

Essa resposta lenta pode ser o motivo pelo qual o refletor de simulação de fundo não está onde deveria estar. A permeabilidade dos sedimentos também pode desempenhar um papel, sugere a equipe, e suas medições mostram que o metano conseguiu aumentar em certas áreas, mas não em outras.

“Em resumo, encontramos uma situação muito dinâmica nesta região, que também parece estar relacionada com o desenvolvimento do Mar Negro desde a última idade do gelo”, disse Riedel.

Cerca de 20.000 anos atrás, o nível da água estava cerca de 100 metros mais baixo no Mar Negro, o que significa menos pressão no fundo do mar. A água também estava significativamente mais fria. No que diz respeito ao gás metano livre, essas condições ainda não mudaram.

Como acontece com qualquer estudo dos efeitos das mudanças climáticas, esta pesquisa vai ajudar na modelagem climática futura. Atualmente, há um grande volume de depósitos de hidratos de gás sob o Ártico, por exemplo, e é importante saber como eles podem reagir aos aumentos de temperatura nos próximos anos.

Os cientistas enfatizam que suas descobertas devem ser interpretadas com cautela, com muitos fatores diferentes em jogo e muito mais espaço para estudo – mas também enfatizam a importância de medições in situ e dados de qualidade para uma análise como esta.

“Para nossas investigações, usamos nosso dispositivo de perfuração MARUM-MeBo200 e quebramos todos os recordes de profundidade anteriores com uma profundidade máxima alcançada de quase 145 metros”, disse o geólogo Gerhard Bohrmann, da Universidade de Bremen, na Alemanha.

A pesquisa foi publicada na Earth and Planetary Science Letters.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.