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Este dinossauro minúsculo e de aparência estranha emboscava suas presas ao luar

Por Mindy Weisberger
Publicado na Live Science

Um minúsculo dinossauro carnívoro tinha uma visão incrível na penumbra e uma audição provavelmente tão boa quanto a de uma coruja. E como uma coruja, o pequeno dinossauro provavelmente usou essas habilidades excepcionais para perseguir e capturar suas presas no deserto sob o manto da escuridão.

Há apenas uma espécie conhecida Shuvuuia deserti, e era menor do que um gato doméstico, medindo apenas 0,6 metros de comprimento. Shuvuuia viveu cerca de 75 milhões a 81 milhões de anos atrás, durante o final do período Cretáceo (145,5 milhões a 65,5 milhões de anos atrás), onde hoje é o Deserto de Gobi, na Mongólia.

Análises anteriores dos ossos fossilizados do Shuvuuia revelaram que ele tinha olhos grandes especializados em enxergar com pouca luz. Mas na época, pouco se sabia sobre as adaptações dos dinossauros para a atividade noturna.

Em um novo estudo, os cientistas analisaram crânios de dezenas de espécies de terópodes extintos e pássaros modernos – a única linhagem de terópodes que sobreviveu até o presente.

Ao comparar as estruturas fossilizadas dos olhos e ouvidos dos dinossauros com as de animais vivos que têm hábitos noturnos, os pesquisadores foram capazes de ver se um dinossauro era adaptado para atividades diurnas ou noturnas.

O tecido mole raramente é preservado no registro fóssil, mas os paleontólogos podem encontrar pistas sobre os olhos e a visão dos dinossauros nos ossos que formam um círculo na órbita do olho, conhecido como anel esclerótico.

Os anéis escleróticos são encontrados em muitos vertebrados (incluindo dinossauros extintos), e o diâmetro desse anel revela a largura máxima que a pupila de um animal pode dilatar, sugerindo sua capacidade de ver com pouca luz, disse o principal autor do estudo, Jonah Choiniere, professor em o Instituto de Estudos Evolucionários da Universidade de Witwatersrand em Joanesburgo (África do Sul).

Mas a caça noturna não depende apenas de uma boa visão; a audição especializada também é fundamental.

Assim, os pesquisadores examinaram a anatomia do ouvido de 88 espécies de pássaros e 17 terópodes fósseis extintos, usando tomografia computadorizada de raios-X (TC) para construir modelos digitais 3D dos crânios dos animais.

Eles prestaram muita atenção à cóclea, a parte do canal auditivo interno que contém os receptores sensoriais para captar as ondas sonoras.

Décadas de pesquisas anteriores mostraram que o comprimento deste canal está intimamente ligado à capacidade de audição dos animais, e o comprimento do canal auditivo do Shuvuuia sugere que sua audição teria sido “fora dos padrões”, disse Choiniere ao Live Science.

Shuvuuia tinha dutos cocleares proporcionalmente mais longos do que até mesmo o pássaro com a melhor audição: a coruja-de-celeiro”, disse Choiniere. Além do mais, o tamanho dos anéis escleróticos do Shuvuuia mostrou que ele também possuía “incrível visão noturna – melhor do que qualquer ave viva que analisamos”, acrescentou.

A combinação de olhos sensíveis à luz e audição superior sugeriu que Shuvuuia teria sido altamente eficaz em detectar e emboscar presas à noite, como fazem as corujas.

Em comparação, o terópode Velociraptor, que vivia no Deserto de Gobi ao lado do Shuvuuia, tinha uma forma de olho intermediária “e era provavelmente mais ativo no crepúsculo”, disse o coautor do estudo Lars Schmitz, professor associado de biologia na Departamento de Ciência WM Keck da Scripps College em Claremont, Califórnia.

Esta é a primeira vez que tais especializações extremas para audição e visão foram documentadas em um dinossauro extinto; ao combinar a visão com a audição, o estudo também fornece as melhores evidências para o comportamento noturno dos dinossauros, disse Schmitz ao Live Science.

Uma miscelânea de coisas em um corpo

Shuvuuia era um dinossauro de aparência estranha e, embora esteja relacionado a temíveis terópodes carnívoros, como o Velociraptor e o Tiranossauro rex, “é totalmente diferente deles”, disse Choiniere.

“Ele tem uma mandíbula levemente desenvolvida e seus dentes parecem minúsculos grãos de arroz basmati. Ele tem um olho enorme, mas o bico é muito pequeno”, disse ele.

Os membros anteriores de Shuvuuia eram poderosos e volumosos, com uma enorme garra na ponta, como os de um porco-da-terra. A cereja no bolo dessa miscelânea de características era um par de pernas traseiras longas e delgadas, feitas para correr.

Por mais estranho que seu corpo possa parecer, essas características podem ter tornado Shuvuuia um caçador noturno excelente.

Alguns mamíferos modernos que vivem em ambientes desérticos áridos, como vivia Shuvuuia, combinam membros posteriores longos com membros anteriores perfeitos para escavar “e muitas vezes têm visão noturna e audição realmente boas”, o que os ajuda a rastrear e capturar presas difíceis de encontrar, disse Choiniere.

Presas que vivem enterradas na areia no deserto também seriam uma refeição fácil para Shuvuuia já que podiam desenterrar elas com seus poderosos antebraços.

Na ilustração deste artista, dois Shuvuuia Deserti ouvem os movimentos de uma presa enterrada. Crédito: Viktor Radermaker.

“Esta observação de que Shuvuuia poderia ter caçado à noite faz muito sentido à luz do resto das adaptações”, disse ele. “Isso coloca o animal em perspectiva e nos permite pensar que eles se encaixariam muito bem em um ecossistema de deserto hoje”.

Animais que vivem juntos na mesma localização geográfica geralmente requerem os mesmos recursos para sobreviver, mas podem compartilhá-los por serem noctívagos ou madrugadores.

Os dinossauros provavelmente fizeram isso também, e este estudo é apenas o começo das descobertas dos paleontólogos sobre as preferências noturnas e diurnas nesses animais extintos e como essas preferências podem ter afetado seus hábitos e comportamento, disse Schmitz.

“Isso é algo que ainda realmente não entendemos bem através do registro fóssil, mas que sabemos ao olhar para as espécies vivas”, disse ele. “Acho que há algumas descobertas empolgantes esperando para serem feitas”.

As descobertas foram publicadas online em 6 de maio na revista Science.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.