Por Katie Pavid
Publicado no Natural History Museum
Um enorme crânio encontrado no Rio Songhua, na China, representa uma nova linhagem irmã do Homo sapiens. Ele data de pelo menos 146.000 anos.
Uma equipe liderada pelo Prof. Qiang Ji na Universidade GEO de Hebei descreveu o crânio em um novo estudo publicado na revista The Innovation.
O crânio está quase completo e fornece evidências importantes para a compreensão da evolução dos humanos e da origem de nossa espécie.
Sua forma é tão distinta que alguns membros da equipe sugeriram declarar o crânio como uma nova espécie do gênero Homo, e foi apelidado de Homem Dragão ou Homo longi. O nome é derivado do Long Jiang, ou Rio do Dragão, na província de Heilongjiang na China.
“Esta é uma nova peça notável no quebra-cabeça da evolução humana, um fóssil que continuará a adicionar informações importantes por muitos anos. É um dos mais bem preservados de todos os fósseis humanos antigos”, disse Chris Stringer, um especialista em evolução humana do Museu de História Natural de Londres, que estudou o crânio ao lado de Ji e sua equipe.
O Homem Dragão representa uma nova espécie humana?
Mais de 100.000 anos atrás, várias espécies humanas coexistiram na Ásia, Europa e África, incluindo Homo sapiens, Neandertais (Homo neanderthalensis) e Denisovanos.
Na China, alguns fósseis antigos foram encontrados com combinações interessantes de características que geraram um intenso debate sobre se eles pertencem a diferentes espécies de humanos, até agora não reconhecidas pela ciência.
Alguns pesquisadores acreditam que os fósseis podem representar populações de transição que preenchem uma lacuna entre nosso ancestral (Homo erectus) e nossa própria espécie, Homo sapiens – ou pensam que podem até representar formas primitivas de nossa própria espécie.
Este crânio, conhecido como crânio de Harbin, botou mais lenha na fogueira dessas discussões. Ele foi descoberto em 1933, quando uma ponte foi construída sobre o rio Songhua, na cidade de Harbin, no nordeste da China, tendo sido enterrado em sedimentos por milhares de anos. Foi reanalisado por Chris, Ji e a equipe.
Em vez de simplesmente comparar a forma e o tamanho de várias características neste crânio, a equipe usou a análise filogenética nesta nova pesquisa, usando matemática para representar a história evolutiva ou a relação entre diferentes espécies ou organismos.
Ele revelou três grupos principais de humanos do Pleistoceno Superior que todos tinham um ancestral comum. Estes eram os Homo sapiens, Neandertais e um grupo contendo o novo crânio e outros fósseis chineses. O estudo da equipe sugeriu que os fósseis chineses estavam mais intimamente ligados à nossa própria espécie do que aos neandertais.
Um grande crânio com características humanas
“O crânio tem uma grande capacidade cerebral, totalmente dentro da gama dos humanos modernos e dos Neandertais. Ele também mostra características semelhantes à nossa espécie, incluindo maçãs do rosto achatadas e baixas com uma fossa canina rasa, e o rosto parece reduzido e enfiado sob a caixa craniana”, disse Chris.
É amplamente aceito que os Neandertais formam o grupo irmão da linhagem Homo sapiens. Mas nossas análises sugerem que este crânio, e alguns outros fósseis humanos do Pleistoceno Médio da China, formam uma terceira linhagem do Leste Asiático, que é, na verdade, mais próxima do sapiens do que os Neandertais.
“Eu acho que esta linhagem representa uma espécie diferente, embora eu prefira agrupá-la com o fóssil de Dali da China como H. daliensis“, completa Chris.
Isso significa que o crânio ajuda a esclarecer ainda mais a evolução de nossa espécie.
“Embora seja impossível fixar o crânio em um local exato no tempo com a tecnologia disponível atualmente, todas as evidências sugerem que estava entre sedimentos de leito de água datados entre 138.000 e 309.000 anos atrás na região de Harbin”, disse o geoquímico e membro da equipe Dr. Junyi Ge da Academia Chinesa de Ciências (ACS)
“Sua idade estimada no Pleistoceno Médio o coloca como um contemporâneo asiático do H. sapiens em evolução, H. neanderthalensis e, possivelmente, da enigmática linhagem Denisovana”, acrescentou Chris. “Também deve ajudar a aprofundar nosso conhecimento sobre os misteriosos denisovanos, mas isso é algo para pesquisas futuras”.