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Mitos e fatos sobre o coronavírus

Por Steven Novella
Publicado na Science-Based Medicine

Há motivos legítimos para se preocupar com a nova pandemia de coronavírus, mas isso não significa que haja motivos para entrarmos em pânico. O medo é um terreno fértil para as teorias da conspiração, charlatães com suas curas milagrosas e as desinformações em geral, e parece que devemos encarar isso e separar fatos da ficção sobre o coronavírus. Vamos começar com algumas informações básicas e uma atualização dos números.

SARS-CoV-2 e COVID-19

O coronavírus é um gênero de vírus zoonóticos, o que significa que eles podem ser compartilhados entre humanos e outros animais, além de causar doenças respiratórias em humanos. Sabe-se que quatro cepas causam o resfriado comum. Atualmente, existem três cepas que causam doenças respiratórias graves – SARS (tecnicamente conhecida como SARS-CoV), MERS e agora SARS-CoV-2, que a nova cepa é oficialmente conhecida. SARS significa “Síndrome Respiratória Aguda Grave” (do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome), enquanto MERS significa “Síndrome Respiratória do Oriente Médio” (do inglês Middle East Respiratory Syndrome). O novo vírus é semelhante ao SARS, sendo  essencialmente o SARS-2.

A doença causado pelo SARS-CoV-2 é a COVID-19 (abreviação do inglês Coronavirus Disease 2019). Ainda estamos no meio da pandemia e, portanto, levará tempo para entender todas as características dessa doença. Mas aqui estão os números até agora:

  • Total de infecções confirmadas: 142,897;
  • Total de mortes: 5,375;
  • Há casos relatados em 136 países e territórios ao redor do mundo e em um 1 transporte internacional (o navio Diamond Princess abrigado em Yokohama, Japão)
  • A taxa de mortalidade da COVID-19 até agora é de cerca de 7% (se contarmos casos encerrados, ou seja, os casos que tiveram um resultado). Isso quer dizer que 93% dos casos encerrados se recuperaram ou deram alta.
  • Cerca de 17% das pessoas que confirmaram a doença se tratam de casos graves, enquanto a maioria das pessoas tem uma doença leve ou moderada. Essas porcentagens podem mudar dependendo de você contar ou não as pessoas que têm o vírus, mas são assintomáticas ou minimamente sintomáticas. Mas é claro que isso também aumentará significativamente o número de casos.

Para colocar esses números em uma perspectiva mais ampla, a temporada de gripe 2019-2020 até agora registrou 32 a 45 milhões de casos apenas nos EUA, com 18.000 a 46.000 mortes. Um ano típico da gripe mata 646.000 pessoas em todo o mundo. Esses números superam a escala da COVID-19 – mais de 200 vezes o número de mortes até agora. Mas isso não significa que não há motivo para preocupação com a COVID-19.

A taxa de mortalidade é muito maior (7% vs 0,1%). Se a COVID-19 se espalhar em uma escala semelhante a uma gripe típica, o número de mortos seria de dezenas de milhões em todo o mundo.

É isso que o CDC, a OMS e os governos mundiais estão tentando impedir. É exatamente por isso que agora é a hora de tomar medidas para limitar a propagação da COVID-19.

A COVID-19 morre de calor?

Esta é uma pergunta difícil de responder, e ganhou as manchetes com a declaração do presidente dos Estados Unidos Donald Trump de que o vírus desaparecerá assim que a primavera no hemisfério norte chegar. O veredito, no entanto, é que ninguém sabe. Gripe e outros vírus respiratórios não gostam do calor. Eles não duram tanto tempo nas superfícies e não se espalham com tanta facilidade. É provável que este seja o caso do SARS-CoV-2, mas simplesmente não sabemos o quanto isso será significativo. Há outras razões pelas quais os vírus respiratórios se espalham mais no inverno – as crianças ficam mais próximas nas escolas e têm menos imunidade porque não foram expostas a tantos vírus.

Há, portanto, uma gama de possibilidades aqui. Na melhor das hipóteses, a disseminação do vírus diminuirá significativamente quando o verão chegar ao hemisfério norte. No entanto, é também neste momento que o inverno chega no hemisfério sul. O pior cenário é que o vírus ainda se espalhe durante o verão, apenas em menor frequência, e se recupere no inverno (como o que acontece a cada temporada de gripe). Nesse caso, o SARS-CoV-2 se tornaria uma endemia com disseminação sazonal contínua ao redor do mundo. Talvez tenhamos que conviver com esse novo vírus, como convivemos com a gripe.

Perspectivas para uma vacina

Há boas e más notícias para uma vacina do SARS-CoV-2. Primeiro, as más notícias – na melhor das hipóteses, leva de 18 a 24 meses para desenvolver e testar uma vacina eficaz, e esse é um cronograma acelerado. Portanto, uma vacina não vai parar o surto atual. A corrida para desenvolver uma vacina é, portanto, para impedir a propagação futura do vírus.

A boa notícia é que os pesquisadores estão progredindo bastante. N.T. com atualização: Aqui, por exemplo, um grupo de brasileiras sequenciaram o genoma do novo coronavírus em laboratório, enquanto oficiais da China, baseando-se no trabalho de oito institutos científicos e médicos do país, estimam que algumas das vacinas entrem em pesquisas clínicas ou sejam úteis em situações de emergência já em abril. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos são capazes de cultivar o vírus em seus laboratórios para estudo. Pesquisadores identificaram a proteína da espícula na parte externa do vírus, que permite se fixar e infectar células humanas. Anticorpos contra essa proteína podem ser uma vacina eficaz. Além disso, até o momento o vírus não exibiu nenhuma mutação extrema, portanto os alvos da vacina podem ser estáveis ​​ao longo do tempo. Conclusão – as perspectivas de uma vacina são boas, mas provavelmente levará alguns anos.

Existe também o potencial de tratamentos medicamentosos da infecção. Os pesquisadores também identificaram uma protease necessária para a replicação do vírus, que pode potencialmente ser bloqueado por medicamentos. Esse medicamento provavelmente funcionaria contra todos os coronavírus. Novamente, porém, isso leva tempo para se desenvolver e testar.

Eu acho que a maneira de olhar para medicamentos e vacinas para a COVID-19 é esta – se a doença seguir seu curso ao longo de 2020 e depois morrer no calor, então será ótimo. Caso contrário, teremos medicamentos e vacinas em breve para ajudar a mitigar a doença. Mas isso não vai nos ajudar em 2020, por isso precisamos dos procedimentos padrão para reduzir a propagação da infecção. Eu já escrevi sobre essas técnicas – lave as mãos com sabão por pelo menos 15 segundos. Faça isso quando estiver viajando, em público ou se tiver sido exposto a pessoas doentes. As máscaras podem ser úteis se você as usar de maneira adequada e consistente em uma área de surto, mas não confie nelas. Fique longe de pessoas que podem estar infectadas e, se estiver doente, fique em casa. Obviamente, é difícil fazer com que bilhões de pessoas façam a coisa certa ao mesmo tempo.

Pseudociência sobre a COVID-19

É claro que também há pseudociência de alto nível, aproveitando o medo e a ignorância sobre a COVID-19, a ciência e a medicina em geral. Muitos dos charlatanismos conhecidos estão circulando, como um produto chamado prata coloidal. Este é um produto perigoso que não deve ser ingerido e não há evidências de que seja eficaz contra qualquer infecção.

O vírus também é uma oportunidade de espalhar o medo e as conspirações e usar o pânico resultante para vender coisas como alimentos a granel. O conspiracionista estadunidense Alex Jones aperfeiçoou este modelo e continua a fazê-lo com a COVID-19.

Existem muitos remédios charlatães que dizem combater diversas doenças de uma só vez. O melhor conselho é confiar em sites oficiais, como CDC dos EUA, a OMS ou instituições de pesquisa respeitadas, para obter informações. Tome as precauções que descrevi acima, leia os documentos do CDC sobre o que fazer e não entre em pânico. Não acredite em teorias da conspiração ou em reivindicações de curas milagrosas. Provavelmente, qualquer suposta cura já foi desmascarada aqui e em outros lugares; portanto, procure informações céticas sobre essas alegações.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.