Por Agata Blaszczak-Boxe
Publicado na Scientific American
Notar quando um amigo ou colega se sente triste, bravo ou surpreso é a chave para se entender e relacionar com os outros, mas um novo estudo sugere que a aptidão de melhor compreender os sentimentos pode vir com uma dose extra de estresse. Esta e outra pesquisa desafiam a ideia predominante de que inteligência emocional é exclusiva e uniformemente benéfica para o seu portador.
Em um estudo publicado em Setembro de 2016 denominado Questão da Emoção, as psicólogas Myriam Bechtoldt e Vanessa Schneider, ambas do Colégio de Gestão e Finanças de Frankfurt, na Alemanha, questionaram 166 estudantes universitários homens para medir sua inteligência emocional. Por exemplo, eles mostraram aos estudantes faces de diferentes pessoas e indagaram quais sentimentos como felicidade ou desprezo estavam sendo expressados nas imagens. Os estudantes então tiveram que fazer uma apresentação frente aos jurados esboçando severas expressões faciais. Os cientistas mediram concentrações do hormônio de estresse cortisol na saliva dos alunos antes e após a “palestra”.
Nos estudantes classificados com maior inteligência emocional, o stress aumentou durante o experimento e demorou mais para retornar aos níveis regulares. Os resultados sugeriram que algumas pessoas tendem a ser mais emocionais do que o necessário para o próprio bem, diz Hillary Anger Elfenbein, professora de Comportamento Organizacional na Universidade de Washington em St. Louis, que não estava envolvida com a pesquisa. “Às vezes você pode ser tão bom em algo que isso te prejudica” ela pontua.
De fato, a pesquisa complementa outra anterior acerca do lado negro da inteligência emocional. Um estudo publicado em 2002 no livro Personalidade e Diferenças Individuais sugere que pessoas emocionalmente perceptivas podem ser particularmente suscetíveis à sentimentos como depressão e desesperança. Ademais, várias pesquisas, incluindo uma publicada em 2013 na revista PLOS ONE, insinuam que inteligência emocional pode ser usada para manipulação de terceiros em benefício próprio.
Mais pesquisas e estudos são necessários para investigar a relação entre inteligência emocional e estresse, principalmente em mulheres e pessoas de diferentes idades e níveis de educação, públicos que não foram ainda considerados. Mesmo assim, essa inteligência é uma habilidade útil para se ter, contanto que o indivíduo aprenda a lidar apropriadamente com emoções, tanto com as próprias como com as dos outros, diz Bechtoldt, também professora de Comportamento Organizacional. Por exemplo, indivíduos sensíveis podem assumir responsabilidade pelas tristezas ou ira dos outros, se estressando desse modo. Em suma, Bechtoldt afirma “você não é responsável por como as outras pessoas se sentem”.