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O megatubarão Megalodonte pode ter sido ainda maior do que pensávamos

Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert

O maior tubarão que já nadou nos oceanos da Terra é como um fantasma no registro paleontológico.

O megalodonte (Otodus megalodon) é conhecido principalmente no registro fóssil por seus dentes gigantes, sobrevivendo milhões de anos, muito tempo após seu esqueleto de cartilagem ter se decomposto totalmente e restado nada para nós. É a partir desses dentes gigantes, do tamanho de uma mão humana, que os cientistas estimam o tamanho da fera colossal, com uma mandíbula que caberia facilmente você dentro deixando ainda espaço de sobra.

Medir o tamanho de um tubarão a partir dos dentes (e de algumas vértebras), no entanto, não é uma ciência exata, especialmente uma espécie extinta que pode ter sido muito diferente dos tubarões modernos, que, afinal, apresentam uma variedade de morfologias. As estimativas do tamanho do megalodonte variaram de cerca de 11 metros a mais de 40 metros de comprimento, mas geralmente se fixando em algo em torno de 15 a 18 metros.

Um novo método de calcular o tamanho do megalodonte com base na largura de seus dentes sugere que esses números são subestimados – que o tamanho real do tubarão gigante pairava em torno de 20 metros de comprimento. E foi uma descoberta casual, feita com a ajuda de estudantes, que revelou isso.

Um dente de megalodonte. Créditos: Kristen Grace / Museu de História Natural da Flórida.

“Fiquei bastante surpreso que ninguém tivesse pensado nisso antes”, disse o paleontólogo Ronny Maik Leder, do Museu de História Natural da Alemanha.

“A beleza simples desse método deve ter sido óbvia demais para ser vista. Nosso modelo era muito mais estável do que as abordagens anteriores. Esta colaboração foi um exemplo maravilhoso de por que trabalhar com paleontólogos amadores e estudantes é tão importante”.

Embora os esqueletos de megalodontes possam estar ausentes do registro fóssil, os dentes são abundantes. As feras gigantes viveram de 23 milhões a cerca de 3,6 milhões de anos atrás, dominando o oceano.

Os tubarões perdem e crescem continuamente os dentes por toda a vida – chegando a 40.000 dentes antes de morrer. Um megalodonte tinha até 276 dentes em sua boca em qualquer momento de sua vida. São muitos dentes.

Para estimar o tamanho do tubarão, os cientistas costumam usar equações baseadas no comprimento do dente. Você precisa descobrir onde o dente estaria na boca do tubarão e, em seguida, usar uma equação para essa posição.

No entanto, a doação de um conjunto quase completo de dentes de megalodonte ao Museu de História Natural da Flórida, nos Estados Unidos, em 2015 removeu muitas das conjecturas de posicionamento.

O paleontólogo Victor Perez, que fez parte do Museu de História Natural da Flórida e agora trabalha para o Museu Marinho de Calvert, em Maryland (EUA), estava realizando essa tarefa com os alunos, usando réplicas impressas em 3D de dentes de megalodonte do conjunto, quando viram que algo não estava certo.

Os cálculos dos alunos variaram entre 12 e 45 metros para o mesmo tubarão, com base na distância da frente da mandíbula.

“Eu estava indo de um lado para o lado na sala, verificando, tipo, você usou a equação errada? Você se esqueceu de converter suas unidades?”, disse Perez. “Mas rapidamente ficou claro que não foram os alunos que cometeram o erro. Simplesmente as equações não eram tão precisas quanto previmos”.

Foi o paleontólogo amador francês Teddy Badaut quem encontrou uma solução. Como a largura do dente de um tubarão é limitada pelo tamanho da mandíbula do tubarão, e o tamanho da mandíbula pode ser proporcional ao comprimento do corpo do tubarão, por que não tentar basear as estimativas na largura do dente em vez do comprimento?

Então, Perez e Leder desenvolveram um novo conjunto de equações, junto com um modelo para estimar a largura da mandíbula com base na relação entre a largura de um dente e a largura da mandíbula.

Eles aplicaram isso aos dentes de megalodonte do conjunto do Museu da Flórida e a conjuntos de dentes de várias outras espécies de tubarão. Isso deu a eles a estimativa de comprimento revisada – bem como uma ferramenta para estimar o tamanho de um megalodonte com base em apenas um único dente.

Claro que isso não é ainda algo perfeito. Os dentes de alguns tubarões são mais próximos que os de outros, e não temos essa informação para o megalodonte. Mas a nova pesquisa talvez nos aproxime um pouco mais de avaliar o verdadeiro tamanho desse temível e antigo predador.

“Embora isso potencialmente melhore nosso entendimento, ainda não resolvemos a questão de quão grande era o megalodonte”, disse Perez. “Ainda há mais que poderia ser feito, mas isso provavelmente exigiria encontrar um esqueleto completo neste momento”.

A pesquisa foi publicada na Palaeontologia Electronica.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.