Por Benjamin Radford
Publicado na Live Science
No filme mais popular de 2016, “Doutor Estranho”, entre os poderes do super-herói principal (“Mestre das Artes Místicas”) está a projeção astral, ou a capacidade de projetar sua consciência para fora de seu corpo físico. Isso é feito de maneira espetacular na ficção científica, com efeitos de última geração produzidos por computador, apresentando uma cena de luta prolongada entre duas pessoas em forma de espírito.
A projeção astral é divertida e fascinante – mas é real?
A ideia de que os humanos podem deixar seus corpos durante os estados de sonho é antiga. Diversas pessoas, incluindo xamãs da Nova Era no mundo todo, acreditam que é possível comungar com uma inteligência cósmica através de visões e sonhos vívidos experimentados durante a projeção astral, também conhecida como “experiência extracorpórea” ou “projeção da consciência”. Pesquisas sugerem que entre 8% e 20% das pessoas afirmam ter tido uma experiência extracorpórea em algum momento de suas vidas – uma sensação de consciência, espírito ou “corpo astral” deixando o corpo físico. Embora a maioria das experiências ocorra durante o sono ou sob hipnose, algumas pessoas afirmam fazê-las enquanto relaxam.
Embora originalmente fosse uma prática meditativa privada, quase religiosa, ela – como muitas crenças da Nova Era – foi comercializada. A viagem astral pode ser um grande negócio. Há diversos livros, seminários, DVDs e outros materiais que prometem ensinar aos alunos como deixar seu corpo físico e acessar outras dimensões. Eles realmente conseguem? Quem sabe?
Pode ser uma experiência profunda, mas o problema fundamental é que não há realmente nenhuma forma de medir cientificamente se o espírito de uma pessoa “sai” ou “entra” no corpo. A explicação mais simples e melhor para experiências extracorpóreas é que a pessoa está apenas fantasiando e sonhando. Como não há nenhuma evidência científica de que a consciência possa existir fora do cérebro, a projeção astral é rejeitada pelos cientistas.
Por que a projeção astral não foi comprovada cientificamente? Alguns afirmam que é porque os principais cientistas têm a mente fechada e se recusam a olhar para evidências que não se encaixam em sua visão de mundo materialista. No entanto, na ciência, aqueles que contestam as teorias dominantes são recompensados, não punidos. Provar a existência de poderes paranormais, projeção astral ou dimensões alternativas daria aos cientistas dissidentes um lugar nos livros de história, talvez até um Prêmio Nobel.
Testar cientificamente a validade da viagem astral deve ser bastante simples, por exemplo: você pode ocultar 10 objetos desconhecidos em locais diferentes e pedir a uma pessoa para projetar sua consciência em cada local e descrever exatamente o que está lá. As descrições podem ou não corresponder.
Não precisamos recorrer a esses testes artificiais, pois o mundo real oferece diversas oportunidades para que a projeção astral seja demonstrada além de qualquer dúvida. Se confirmada, a viagem astral seria incrivelmente útil para o mundo. Não seria mais necessário enviar seres humanos a condições muito perigosas – como desastres nucleares – para determinar qual é a situação. Pessoas cujas consciências podem voar e se mover através das paredes salvariam vidas durante desastres naturais, como terremotos, movendo-se facilmente através de escombros e prédios desmoronados para localizar sobreviventes e direcionar equipes de resgate para eles. Projetores astrais, como paranormais, seriam inestimáveis para a polícia durante situações de tiroteio em massa envolvendo reféns, descrevendo exatamente quantos suspeitos existem, onde eles podem ser encontrados e outros detalhes cruciais. A ausência desses indivíduos durante situações de vida ou morte é reveladora.
Os praticantes de viagens astrais insistem que a experiência deve ser real porque parece muito vívida e porque algumas experiências são semelhantes, mesmo para pessoas de culturas diferentes. Porém, não surpreende que muitas pessoas que tentam projeção astral tenham experiências semelhantes – afinal, é esse o termo “imagem guiada”: quando uma autoridade (como um psicólogo ou professor de viagem astral) diz a uma pessoa o que ela deve esperar da experiência.
De acordo com a pesquisadora Susan Blackmore, autora de Além do Corpo: Uma Investigação de Experiências Extracorpóreas, as pessoas que fazem viagens astrais “tiveram maior pontuação nas medidas de hipnotizabilidade e, em várias pesquisas, nas medidas de absorção, [uma] medida da capacidade de uma pessoa de prestar total atenção a alguma coisa e se tornar imersa nela, mesmo que não seja real, como um filme, peça teatral ou evento imaginado”. Os projetores astrais são mais imaginativos, sugestionáveis e propensos à fantasia do que a média, embora tenham baixos níveis de uso de drogas e álcool e nenhum sinal óbvio de psicopatologia ou doença mental.
Embora os praticantes de projeção astral insistam que suas experiências são reais, todas as evidências são anedóticas – assim como uma pessoa que toma peiote ou LSD pode estar realmente convencida de que interagiu com Deus, pessoas mortas ou anjos enquanto estava em seu estado alterado. A projeção astral é um passatempo divertido e possivelmente inofensivo que pode parecer profundo e, em alguns casos, até mudar a vida de alguém. Porém, não há evidências de que as experiências extracorpóreas ocorram fora do corpo, em vez de dentro do cérebro. Até que a existência de um plano astral possa ser confirmada – e tornada acessível – sempre haverá as aventuras contínuas do Supremo Feiticeiro.