Pular para o conteúdo

Sasha Sagan: “Está na hora de pessoas seculares pararem de se contentar com a pseudociência”

Por Sarah Sloat
Publicado em Inverse

A única filha do célebre astrônomo Carl Sagan e da produtora de documentários Ann Druyan, Sasha Sagan cresceu em uma casa governada pelo método científico – e pela curiosidade. A ciência foi motivo de celebração – uma fonte de admiração e um provedor de conforto.

Compartilhar o mesmo respeito e senso de espanto pela comunicação científica foi a paixão e o trabalho de suas vidas. Depois que os documentos foram adquiridos pela Biblioteca do Congresso, em 2013, Sagan decidiu que ela tinha sua própria mensagem científica para levar aos outros: as pessoas não precisam de pseudociência, porque a ciência já nos dá o que precisamos.

Durante anos, Sagan se viu em ambientes sociais discutindo as filosofias pessoais de outras pessoas. Embora não tenham sido necessariamente debates, diz ela à Inverse, “eu tenho o hábito de entrar em debates com as pessoas que estão sentadas ao lado em jantares”. Contudo, os tópicos – o poder dos cristais ou da astrologia, por exemplo – a incomodava.

“Esses são dois exemplos perfeitos de coisas populares do porquê as pessoas querem se sentir conectadas à Terra e ao universo, que é um sentimento tão antigo”, diz Sagan. “Contudo, na minha opinião, as coisas que realmente proporcionam satisfação nessa área são apoiadas por evidências”.

Sagan é cuidadosa com suas palavras. Enquanto secular, ela é profundamente educada e fascinada por visões de mundo distintas das dela. No entanto, ela percebeu que outras pessoas seculares estão se voltando à pseudociência para ter uma sensação de conexão espiritual. Contudo, eles têm outra opção melhor que poderia proporcionar a satisfação que estavam procurando – a ciência real e os prazeres simples do mundo natural.


“O desejo de sentir uma parte do mundo é tão forte, e eu me relaciono com esse desejo completamente”, diz Sagan. “No entanto, há pessoas que estão vendendo coisas para você, que querem fazer você se sentir conectado, e existem maneiras prontamente disponíveis de pensar sobre quem somos no universo, que não exigem fé”.

Sentir o calor do Sol em seu rosto após o inverno ou testemunhar a mudança das folhas para o vermelho quando uma nova estação chegar deve ser vista como atos de beleza e significado, diz ela. Contudo, a realidade é que as pessoas costumam ver essas atividades como mundanas – algo que ela credita a uma deturpação de fatos por ser algo frio e difícil.

“A ciência nem sempre é considerada romântica, mas deveria ser”, diz Sagan. “É apenas uma questão de como você pensa sobre isso”.

Sasha e seu pai, o astrônomo Carl Sagan.

Sagan arregaçou as mangas e tomou uma iniciativa própria. Primeiro, ela publicou um ensaio viral no The Cut, da New York Magazine, refletindo sobre as lições de seu pai sobre a mortalidade. Depois, ela escreveu uma série de ensaios na Revista Oprah sobre o amor, a tristeza e a superação de medos.

Antes de escrever, Sagan, que trabalhou como produtora de televisão e cineasta, havia lutado para escrever um roteiro sobre uma mulher que defendia a busca de significado em uma vida vivida secularmente. No entanto, ela não precisava de uma personagem para transmitir essa mensagem.

“Em algum momento, deu um click – retire o intermediário. Não escreva uma versão fictícia de si mesma, diz Sagan, apenas faça o que está tentando dizer”.

Seus escritos aumentaram em sua primeira obra, For Small Creatures Such as We, um livro de memórias parcialmente publicado em outubro. É também um manifesto. Sagan é uma amante de rituais e defende esses atos como uma maneira de encontrar significado no mundo. As pessoas não têm nada a perder comemorando mais e a ciência pode ser o fundamento dessas pequenas celebrações, diz ela.

Isso não quer dizer que você deva se divertir lendo estudos científicos. Embora, se essa é sua fonte de alegria de viver, bom para você. Contudo, significa reservar um tempo para se surpreender com os fatos que conhecemos e com a tecnologia que desfrutamos. É sobre o ritual de fazer perguntas e aceitar que a resposta que você deseja talvez ainda não esteja disponível. E quando for, você terá a satisfação de aprender mais sobre isso. O apetite de Sagan por essa prática é contagioso – lembre-se de que seu DNA foi transmitido de seres antigos e, porra, você pode voar para lugares e ver coisas com as quais esses seres podiam apenas sonhar.

Sagan atua como um guia para o ritual. Ela é uma contadora de histórias que se emociona ao fazer perguntas – algo que com certeza herdou dos pais. Agora, ela quer estender isso à criação de livros para crianças. Sua filha tem 2 anos e tornar-se mãe exerceu uma força gravitacional sobre ela para comunicar a capacidade da ciência de responder às nossas perguntas mais profundas.

Contudo, Sagan está bem em não ter todas as respostas para a vida e o universo. Quando perguntado sobre a existência de alienígenas, seu pai, Carl, respondeu que ele estava retendo a crença até que houvesse evidências. Ela se sente da mesma forma quando faz perguntas sobre a religião e a existência de Deus. Ela está retendo a crença porque não há evidências. No entanto, se houvesse, ela ficaria emocionada ao saber disso.

Douglas Ferrari

Douglas Ferrari

Graduado em Sociologia, Docente de Sociologia e Filosofia, desenvolve atividades de Divulgação e Educação Científica. Membro do Universo Racionalista, Presidente/Fundador do Grupo de Astronomia e Física Concórdia-SC.