Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert
Aproximadamente 430.000 anos atrás, um meteorito explodiu sobre a Antártica.
A única razão pela qual sabemos sobre isso agora é porque os cientistas acabaram de encontrar minúsculas partículas de rocha espacial que estiveram escondidas no gelo desde então.
Com base na análise dessas partículas, o evento foi incomum – não muito poderoso para produzir uma cratera de impacto, mas também não se tratava de um objeto leve. O jato de material derretido e vaporizado que surgiu da explosão no ar teria sido mais perigoso do que o evento de Tunguska que devastou uma floresta siberiana em 1908 numa área de milhares de quilômetros quadrados.
Embora os impactos produtores de crateras sejam bastante raros, as rochas que entram e explodem na atmosfera terrestre não são. Elas são chamados de bólidos, e a NASA registrou 861 delas desde 1988 no momento em que este artigo foi escrito. Os superbólidos – como o meteoro de Tcheliabinsk em 2013 ou o meteoro de Kamchatka em 2018 – ocorrem algumas vezes em um século.
Eventos de explosão aérea mais poderosos que Tunguska são mais raros ainda, mas ainda são considerados mais comuns do que eventos de cratera de impacto ao longo da história da Terra. Isso é preocupante, de acordo com uma equipe liderada pelo cosmoquímico Matthias van Ginneken, da Universidade de Kent, no Reino Unido.
“Embora os eventos de aterrizagem não ameacem a atividade humana se ocorrerem sobre a Antártica”, disse ele. “Se eles ocorressem acima de uma área densamente povoada, resultariam em milhões de vítimas e graves danos em distâncias de até centenas de quilômetros”.
O problema é que, como esses eventos não tendem a deixar uma cratera, temos dificuldade em identificá-los (caramba, às vezes até temos dificuldade em identificar crateras), então não está claro o quão comuns eles são.
Mas tivemos pistas através de 17 minúsculas partículas encontradas no cume do Walnumfjellet nas montanhas Sør Rondane da Terra da Rainha Maud, no leste da Antártica. A maior dessas partículas tem mais do que meio milímetro de diâmetro.
Elas podem parecer grãos de terra bastante comuns a olho nu, mas van Ginneken e sua equipe as submeteram à microscopia eletrônica de varredura, revelando que são um tipo de produto de bólido chamado esférulas de condensação.
O estudo da equipe revelou que as esférulas são compostas principalmente de ferro e olivina, com um alto teor de níquel – exatamente consistente com um tipo de meteorito raro conhecido como palasita, confirmando que as esférulas se originaram fora do nosso mundo.
Elas também tinham baixo teor de oxigênio-18, um isótopo de oxigênio encontrado em concentrações mais baixas em condições mais frias, como gelo polar e água. Quando comparadas às esférulas de condensação encontradas em outras regiões da Antártica, anteriormente datadas de 480.000 e 430.000 anos atrás, os pesquisadores viram que elas eram surpreendentemente semelhantes.
Este perfil químico semelhante sugere que as esférulas foram todas criadas a partir do mesmo evento meteorítico, 430.000 anos atrás. Elas também contém pistas sobre a própria explosão.
De acordo com os pesquisadores, as esférulas de condensação de uma simples explosão de ar são raras; elas geralmente são encontradas associados a eventos de crateras. Mas a equipe não conseguiu encontrar nenhuma cratera associada a seus grãos. Além da ampla área pela qual elas estavam espalhadas, tudo isso sugere que o evento que produziu as esférulas teve que ser uma explosão de ar – mas muito mais poderosa do que normalmente vemos.
Não temos 100 por cento de certeza de como os meteoros explodem no ar, mas os cientistas acreditam que o ar de alta pressão na frente do meteoro em queda se infiltra nas rachaduras da rocha, aumentando a pressão interna e fazendo com que a rocha se quebre.
O calor associado a este processo teria vaporizado o material no meteorito; a explosão o enviou em direção ao solo. Lá, o material vaporizado condensou-se novamente, misturando-se com a camada de gelo da Antártica no processo: daí o perfil de oxigênio-18 das esférulas.
Como esse evento teria sido ainda mais poderoso do que Tunguska – uma explosão de pelo menos 3 megatons – as descobertas sugerem que esses eventos de meteoros “intermediários” têm o potencial de ser devastadores; mesmo sem um impacto, o evento de Tunguska arrasou 2.150 quilômetros quadrados de floresta, derrubando cerca de 80 milhões de árvores.
Portanto, cabe a nós, disseram os pesquisadores, tentar preencher as lacunas no registro dos superbolídeos.
“Para completar o registro do impacto de asteroides da Terra, recomendamos que estudos futuros se concentrem na identificação de eventos semelhantes em diferentes alvos, como embasamentos oceânicos rochosos ou rasos, já que a camada de gelo da Antártica cobre apenas 9 por cento da superfície terrestre da Terra”, disse van Ginneken. “Nossa pesquisa também pode ser útil para a identificação desses eventos em núcleos de sedimentos do fundo do mar e, se a expansão da pluma atingir massas de terra, o registro sedimentar”.
Como se não tivéssemos o suficiente com que nos preocupar…
A pesquisa da equipe foi publicada na Science Advances.