Por Brandon Specktor
Publicado na Live Science
De sua mesa na Universidade de Cambridge e além, Stephen Hawking enviou sua mente em espiral para as profundezas dos buracos negros, irradiando através do infinito cosmos e girando há bilhões de anos para testemunhar o primeiro suspiro do tempo. Ele observava a criação como um cientista e, quando era chamado para discutir os maiores quebra-cabeças da criação – de onde viemos? Qual é o nosso propósito? Estamos sozinhos? – ele respondia como cientista para desgosto de seus críticos religiosos.
No último livro de Stephen Hawking, Breves Respostas Para Grandes Questões, publicado em 16 de outubro de 2018 pela Bantam Books, o professor inicia uma série de 10 ensaios intergalácticos, abordando a questão mais antiga e religiosa da vida de todos: existe um Deus?
A resposta de Hawking – elaborada a partir de décadas de entrevistas, ensaios e discursos anteriores com a ajuda de sua família, colegas e do Steven Hawking Estate – não deve surpreender os leitores que seguiam seu trabalho.
“Penso que o universo foi criado espontaneamente do nada, de acordo com as leis da ciência”, escreveu Hawking, que morreu em março de 2018. “Se você aceita, como eu, que as leis da natureza são constantes, então não demorará muito para perguntar: qual o papel de Deus [no Universo]?”
Na vida, Hawking foi um defensor vocal da teoria do Big Bang – a ideia de que o universo começou a expandir repentinamente de uma singularidade ultradensa menor que um átomo. Desse ponto emergiram toda matéria, energia e espaço vazio que compõem o universo, e toda essa matéria-prima evoluiu para o cosmos que conhecemos hoje, seguindo um conjunto estrito de leis científicas. Para Hawking e muitos cientistas com posições semelhantes, as leis combinadas da gravidade, relatividade, física quântica e algumas outras leis podem explicar tudo o que aconteceu ou que acontecerá em nosso universo.
“Se você quiser, pode dizer que as leis são obras de Deus, mas isso é mais uma definição de Deus do que uma prova de sua existência”, escreveu Hawking.
Com o universo rodando como um piloto automático cientificamente orientado, o único papel de uma divindade todo-poderosa pode ser definir as condições iniciais do universo para que essas leis possam tomar forma – um criador divino que causou o Big Bang e depois recuou para contemplar sua obra.
“Deus criou as leis quânticas que permitiram que o Big Bang ocorresse?”, escreveu Hawking. “Não desejo ofender a fé de ninguém, mas acho que a ciência tem uma explicação mais convincente do que um criador divino”.
A explicação de Hawking começa com a mecânica quântica, que explica como as partículas subatômicas se comportam. Em estudos quânticos, é comum ver partículas subatômicas como prótons e elétrons aparentemente surgirem do nada, permanecerem por um tempo e desaparecerem novamente em um local completamente diferente. Como o universo já foi do tamanho de uma partícula subatômica, é plausível que tenha se comportado de maneira semelhante durante o Big Bang, escreveu Hawking.
“O próprio universo, em toda a sua vastidão e complexidade, pode simplesmente ter surgido sem violar as leis conhecidas da natureza”, escreveu ele.
Isso ainda não explica a possibilidade de Deus ter criado essa singularidade do tamanho de um próton e acionado o interruptor mecânico-quântico que permitisse sua expansão. Porém, Hawking diz que a ciência também tem uma explicação para o problema. Para ilustrar, ele aponta para a física dos buracos negros – estrelas em colapso que são tão densas que nada, incluindo a luz, pode escapar de sua atração.
Buracos negros, como o universo anterior ao Big Bang, condensam-se em uma singularidade. Nesse ponto de massa extremamente compacto, a gravidade é tão forte que distorce o tempo, a luz e o espaço. Simplificando, nas profundezas de um buraco negro, o tempo não existe.
Como o universo também começou como uma singularidade, o próprio tempo não poderia existir antes do Big Bang. A resposta de Hawking ao que aconteceu antes do Big Bang é: “não havia tempo antes do Big Bang”.
“Finalmente, encontramos algo que não tem uma causa, porque não havia tempo para uma causa existir”, escreveu Hawking. “Para mim, isso significa que não há possibilidade de um criador, porque não há tempo para ele existir”.
Esse argumento pouco convencerá os fiéis teístas, mas essa nunca foi a intenção de Hawking. Como cientista com uma devoção quase religiosa à compreensão do cosmos, Hawking procurou “conhecer a mente de Deus” aprendendo tudo o que podia sobre o universo autossuficiente ao nosso redor. Embora sua visão do universo possa tornar um criador divino e as leis da natureza incompatíveis, ele ainda deixa amplo espaço para fé, esperança, admiração e, principalmente, gratidão.
“Temos uma vida única para apreciar o grande projeto do universo”, Hawking conclui o primeiro capítulo de seu último livro, “e, por isso, sou extremamente grato”.