Por Robert Todd Carroll
Publicado no The Skeptic’s Dictionary
“Nenhuma evidência foi encontrada para a ideia de ‘sincronicidade’ de Carl Jung”.
– Steven Strogatz
Sincronicidade
A sincronicidade é um princípio explicativo, de acordo com seu criador, Carl Jung. A sincronicidade explica “coincidências significativas”, como um besouro voando em seu quarto, enquanto um paciente estava descrevendo um sonho com um escaravelho. O escaravelho é um símbolo egípcio do renascimento, ele observou. Portanto, o momento propício do besouro voando indicava que o significado transcendental tanto do escaravelho no sonho quanto do inseto no quarto era de que o paciente precisava se libertar de seu excessivo racionalismo. Sua noção de sincronicidade é a de que há um princípio causal que vincula eventos com significado semelhante por sua coincidência no tempo, em vez de algo sequencial. Ele alegou que há uma sincronia entre a mente e o mundo fenomenal da percepção.
Carl Jung (1875-1961) foi um psiquiatra suíço e colega de Freud, que rompeu com a psicanálise freudiana sobre a questão da mente inconsciente como um reservatório de trauma sexual reprimido que causa todas as neuroses. Jung fundou sua própria escola de psicologia analítica.
Jung acreditava em astrologia, espiritualismo, telepatia, telecinesia, clarividência e percepção extrassensorial. Além de acreditar em várias noções ocultas e paranormais, Jung contribuiu com duas novas: a sincronicidade e o inconsciente coletivo.
Quais razões existem para aceitar a sincronicidade como uma explicação para qualquer coisa no mundo real? O que explica é elucidado de uma forma mais simples e elegante pela capacidade da mente humana em encontrar significado e importância onde não há (apofenia). A defesa de Jung de conexões causais é tão insana que hesito em repeti-la. Ele argumenta que “fenômenos causais devem existir… uma vez que as estatísticas só são possíveis de qualquer maneira se também houver exceções” (1973, Letters, 2: 426). Ele afirma que “… fatos improváveis existem – caso contrário, não haveria média estatística…” (ibid.: 2: 374). Finalmente, ele afirma que “a premissa da probabilidade postula simultaneamente a existência do improvável” (ibid.: 2: 540). No entanto, se você pensar em todos os pares de coisas que podem acontecer na vida de uma pessoa e acrescentar a isso nossa muito versátil capacidade de encontrar conexões significativas entre as coisas, parecerá provável que a maioria de nós experimentará muitas coincidências significativas. As coincidências são previsíveis, mas somos nós que damos sentido.
Mesmo que houvesse uma sincronicidade entre a mente e o mundo, de modo que certas coincidências ressoassem com a verdade transcendental, ainda haveria o problema de descobrir essas verdades. Qual guia uma pessoa poderia utilizar para determinar a correção de uma interpretação? Não há nenhuma, exceto a intuição e a introspecção, os mesmos guias que levaram o professor de Jung, Sigmund Freud, em sua interpretação dos sonhos. O conceito de sincronicidade é apenas uma expressão de apofenia.
De acordo com o psiquiatra e autor Anthony Storr, Jung passou por um período de doença mental durante o qual ele pensava que era um profeta com “insight especial”. Jung se referiu à sua “doença criativa” (entre 1913-1917) como um confronto voluntário com o inconsciente. Seu grande “insight” foi que ele pensou que todos os seus pacientes com mais de 35 anos sofriam de “perda de religião” e que ele tinha algumas coisas para preencher suas vidas vazias, sem rumo, desprovidas de sentido: seu próprio sistema metafísico de arquétipos e o inconsciente coletivo.
A sincronicidade fornece acesso aos arquétipos, que estão localizados no inconsciente coletivo.
Inconsciente coletivo
O inconsciente coletivo é uma parte da mente inconsciente comum a todos os seres humanos. De acordo com Carl Jung, o inconsciente coletivo contém arquétipos, predisposições mentais universais não fundamentadas na experiência. Como as Formas de Platão (eidos), os arquétipos não se originam no mundo dos sentidos, mas existem independentemente desse mundo e são conhecidos diretamente pela mente. Ao contrário de Platão, Jung acreditava que os arquétipos surgem espontaneamente na mente, especialmente em tempos de crise. Assim como existem coincidências significativas, como o besouro e o sonho com o escaravelho descritos na explicação sobre a sincronicidade, que abrem a porta para verdades transcendentes, também uma crise abre a porta do inconsciente coletivo e solta um arquétipo para revelar alguma verdade profunda escondida da consciência comum.
Jung afirmou que a mitologia baseia suas histórias nos arquétipos. A mitologia é o reservatório de verdades profundas, ocultas e maravilhosas. Crises psicológicas, sonhos, febres, transtornos e encontros causais ressoam com “coincidências significativas” em todos os portais do inconsciente coletivo, que está pronto para restaurar a psique individual à saúde com suas ideias. Jung sustentou que essas noções metafísicas são cientificamente fundamentadas, mas não são empiricamente testáveis de uma forma significativa. Em resumo, elas não são científicas, mas pseudocientíficas.